O dia seguinte à minha inconsequência extraordinária chegara. Levantei-me como sempre, arrastando-me até pia, rosto lavado, café forte, maquiagem e roupa decente, para colocar de novo o pé na estrada. Suspirei fundo. Cheguei a rezar para meu dia ser diferente, hábito que eu havia quase abandonado.
Ouvindo o barulho de meus passos, fui saindo.Conferindo se tudo estava trancado, mergulhei de novo na cidade.
E em menos de meia hora, lá estava eu, em mais um cubículo na semiescuridão o que deixava a vista cansada, se bem que folhear revistas de fofocas de dois anos atrás(que vi de relance ao entrar) não era lá um bom modo de querer passar o tempo.
Entreguei à recepcionista uma ficha com os dados pessoais, sentei e esperei...
Entreguei à recepcionista uma ficha com os dados pessoais, sentei e esperei...
Fiquei analisando o ambiente. A recepcionista agora olhava fixamente para uma tela à sua frente, movimentando o mouse às vezes. Eu poderia apostar que estava jogando paciência. E que não se dera conta de que havia mais alguém além dela na sala, ou ante-sala, que seja.
Mais duas pessoas ao meu lado sobraçavam currículo, referências,em pastas de papel. Aparentavam estar nervosas. E o nervosismo perde pontos em entrevistas.
Não que eu não estivesse nervosa, também.. mas conseguiria me controlar.
O tique-taque do enorme relógio de parede estava começando a me irritar. O tempo parecia passar lentamente.. ninguém entrava, ninguém saía, ninguém estava sendo chamado. Que marmota era aquela?
Tédio. As duas pessoas ao meu lado nada diziam. De algum lugar qualquer vinha uma música dessas que vive tocando em rádios,e na qual eu simplesmente não conseguia prestar atenção. Paredes brancas, tique-taque, relógio, mesa, computador, recepcionista, cadeiras, porta. Tudo parecia congelado. Olhei o relógio, haviam se passado apenas dez minutos.
Aquilo já estava me dando sono, quase esqueci porque estava naquele lugar. "Auxiliar de Recursos Humanos".. era quase um avilte pela formação que eu tivera na faculdade, mas era necessário. Precisava de algum emprego, e se tinha de ser esse, que fosse... com o tempo poderia crescer. A convicção de que havia neste mundo um lugar para mim, e que eu iria chegar lá, me fez ficar de cabeça erguida. Foi aí que percebi que as outras duas pessoas haviam sumido.... eu e minha maldita mania de mergulhar nos meus pensamentos e esquecer o mundo ao redor! Será que já haviam me chamado também? Oh, puxa...
Queria perguntar à recepcionista, mas ela parecia tão mergulhada no que lá fosse que estava vendo na tela à sua frente que pensei em esperar mais um pouco.. foi quando ouvi uma voz, de outra porta, chamando meu nome.
"Seja o que Deus quiser", pensei, agarrando minha bolsa, minha pasta e disfarçando a ansiedade. E fui em direção à porta.
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