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28 de jun. de 2011

Passado.

 "Às vezes construímos pequenos sonhos em cima de grandes pessoas... Depois de um tempo, percebemos que grandes eram os sonhos, e as pessoas pequenas demais" (Desconheço o autor) 



Era um dia de faxina. Não era para ser, apenas estava batucando no teclado do computador, quando resolveu limpar a gaveta próxima. Muitos papeizinhos depois, resolveu passar para outra. Ajeitando, amassando recados antigos, contas que não interessavam mais, agendas velhas.Começou a reler algumas anotações antigas: "Comprar seis pães na volta". O que isso fazia aí? Quando foi isso? "Dentista. 9:00h. Desmarcar". Não lembrava o porque nem quando desmarcou, mas com certeza arrependeu-se depois, quando fez aquele tratamento que parecia não terminar. 
Mais papéis e contas antigas jogadas no cesto...
E, no fundo da gaveta, um envelope azul. Que seria? Mas não era um envelope.Havia endereço. De quanto tempo atrás? Era um envelope de laboratório fotográfico. Nem lembrava mais quando mandara revelar algo pela última vez. Era seu endereço. E o valor, oito reais. Colocou a ponta dos dedos no envelope. Estaria vazio? 
Não estava. 
Era uma foto. 
Dela. 
Tudo o que parecia tão longe, quase enterrado, como um sonho... voltou naquele instante. 
Forte.
Marcante. 
Impossível... Como vivera com aquela dor até agora, sem sentí-la? Havia se passado muito tempo, e ele sabia como sobrevivera à dor. 
Havia amortecido, anestesiado a mente e o coração. Tudo acontecera tão de repente, que havia parecido um sonho. E foi isso que o fez viver, sobreviver durante tanto tempo depois. 
Passou o dedo, acariciando a foto. O rosto alegre, o sorriso espontâneo. Olhar de felicidade. Uma vida inteira pela frente! 
Ele a admirava, a queria, a idolatrava. Ela, o que ele sentia por ela, no alto de um pedestal. Ele lá embaixo, mirando e remirando a maravilha que entrara em sua vida, adorando, achando que não a merecia. 
O tempo, como acontece com muitos, foi passando. Não atinou, no começo, com o que acontecia. Um esquecimento aqui, uma palavra atravessada ali. Só mau humor, pensava. Não ligou muito. 
Quis noivar, reparou que ela estava meio nervosa, mas achou que era emoção pelo pedido. Só muito tempo depois, lembrou que ela não dera um "sim", nem um "não". 
O casamento estava marcado, mas ela estava tão silenciosa... Um dia, simplesmente sumiu. 
Não houve despedida. Não houve explicações. Apenas um bilhete: "Não sou para você. Procure alguém que te mereça".
Um tapa na cara teria doído menos.Uma explicação, mesmo esfarrapada, teria sido melhor que isso. Afundou-se no trabalho, a princípio. Às vezes, saía com colegas de trabalho, ia a festas. Mas a imagem dela continuava assombrando sua mente, sua vida.
Por que?
Agora, depois de tanto tempo, a foto na mão, a mesma pergunta: por que? 
Por que, mesmo tendo conhecido tanta gente, ainda não esquecera? 
Por que continuava sozinho?
Por que amortecia seus remordimentos em frente ao computador, criando estratégias para demorar mais em seu trabalho? 
E, sobretudo, por que a velha dor voltara tão forte, mesmo depois de ter aceitado - ou melhor, fingir ter aceitado - que o tempo junto daquela mulher que amou não voltaria?
A foto não poderia voltar para a gaveta. 
Ele não queria contar, mais tarde, para quem encontrasse..." Essa foto? Ah, é de alguém que sumiu da minha vida, sem explicar o por que". 
Agora, com a mente mais limpa,com menos paixão, ele imaginava o por que.
E compreendeu.
A dor não era pelo que acontecera, e sim pelo que poderia ter acontecido. 
Era hora. 
 Não sabia para que endereço mandar o envelope, mas conhecia alguém que poderia dar destino a seu conteúdo. Escreveu o endereço que sabia, foi ao correio. De lá saiu lentamente... olhou mais uma vez para a agência, depois para o céu e sussurou: " Te deixo livre, finalmente".
E também se libertou.

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