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Imagem retirada do blog Meninas e Seus Livros |
" Ele pegou sua mochila surrada, olhou para trás apenas mais uma vez- que jurou ser a última - e partiu. Para onde?"
-Pois é, para onde?
Esfrego os olhos, olho para o monitor. Verifico se o player do computador está ligado. Não está.
-Falei com você!
Não é a tv, tampouco o rádio.. e essa voz definitivamente não é do meu esposo.
- Quem está aí?
-Eu, caramba!
-Eu quem, a nona ²?
-Seu personagem sem rumo nem direção. Escuta aqui, Mari, ou Devaneios, ou sei lá: para onde eu vou?
-Isso não está acontecendo... eu me nego a conversar com um personagem de ficção!
-Querida, você me criou, me tirou a casa, me deixou sem rumo, colocou uma mochila pesada nas minhas costas e me deixou pensando para onde vou agora, sem nem olhar para trás. Você criou essa situação. O mínimo que você pode fazer é me dar um pouco de atenção.
- Ô personagem, estou aqui há quinze minutos criando sua história. Quer mais atenção?
- Viu, eu sequer tenho nome. Então, nem pensou em um nome para mim, né? Mania que vocês escritores tem de viver com pronomes: "ele" fez isso, "ela" está triste, "eles" saíram. Não pensa que isso magoa? Assim que você acabar de escrever esta história e postar, serei apenas mais um em uma multidão de "eles", sendo lidos, comentados, depois de algum tempo postos em algum tipo de limbo para onde vão os personagens criados por vocês.
Escuta, que destino você vai me dar nesta história? Terminarei contemplando o céu, morrerei afogado em alguma chuva de proporções diluvianas, encontrarei o amor da minha vida, dormirei na relva.. pensa logo, a mochila aqui está cansando!
-Eu devo estar cansada, só pode...
-Eu sou fruto de sua imaginação. Nem estas palavras são minhas, você que está colocando na minha boca. De certa forma, eu sou parte de voce, eu sou você!
-Ah, agora chegamos a um consenso! Se eu sou você, não posso discordar de mim mesma; e se eu criei você, posso fazer o que quiser contigo. Resigne-se a ser meu personagem.
- Não, cansei de ser marionete! Eu quero, eu exijo que você crie um final decente para mim!
- Tá, coloca a mochila no chão e espera.
- Eu vou ter um final feliz?
- Vou pensar. Agora estou desligando o computador.
-Não!!! Eu não vou ficar aqui, aprisionado nestas linhas, esperando você decidir minha vida! Não dá! Escreve só mais um pouco, mais um pouco..
- Essa conversa toda me deixou cansada. Tanto que estou aqui, conversando com um personagem que eu mesma criei. Ou seja, estou conversando comigo mesma. E isso é estranho.
Quer dizer... uma pessoa conversado consigo mesma, sozinha, é considerada louca ou no mínimo "viajona"
Um escritor cria histórias, tiradas de sua imaginação, ou seja, conversa consigo mesmo.. e é chamado de criativo. Ou maluco, o que dá quase no mesmo..
-Ô, Mari! Você está viajando, esquecendo de mim!
-Sabe o que? Você, personagem que ainda não ganhou nome, está ficando muito chato! Eu vou desligar o computador e dormir. Está tarde.
-Nãão...
-Se me chatear jogo a história toda na lixeira!
- NÃO MEXA NESSE MOUSE!
-Tchauzinho!
No dia seguinte...
"Ele simplesmente ficou ali, parado, contemplando o infinito. Depois, pôs-se em marcha. Para onde? Ninguém ficou sabendo. Ele, e somente ele era dono de seu destino"
* O título do post remete a este filme aqui, ó.
2 - expressão besta que usamos por aqui, rsrsr
...............ei, psiu!

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