Com
um ar cansado, óculos grossos e pesados que já haviam se incorporado a seu rosto,
o homem espiava pela janela o dia que passava.
Dia parado, sol firme. Pássaros cantavam para lembrar que o dia era vivo. O ruído de um cortador de grama ao longe. O homem esticou o braço e serviu-se de mais uma xícara de café. Continuou a olhar pela janela. O vento trazia o som das crianças brincando ao longe. Uma borboleta amarela voejava, dona do ar e das flores a sua volta. Sim, o mundo continuava em movimento.
Dia parado, sol firme. Pássaros cantavam para lembrar que o dia era vivo. O ruído de um cortador de grama ao longe. O homem esticou o braço e serviu-se de mais uma xícara de café. Continuou a olhar pela janela. O vento trazia o som das crianças brincando ao longe. Uma borboleta amarela voejava, dona do ar e das flores a sua volta. Sim, o mundo continuava em movimento.
Tirou
os óculos, que o acompanhavam há tantos anos. Espalmou sua mão sobre sua testa,
fechou os olhos por um instante; voltou a por seus óculos e a olhar da janela.
A
tarde ia morrendo: breve as luzes da rua se acenderiam. O homem colocou a
xícara, já vazia, na pia da cozinha; lentamente levantou-se de sua cadeira e
foi até a porta. Um instante de
hesitação, e a mão pousada na maçaneta finalmente se moveu. A passos
largos, o homem ganhou a rua. Cansara-se de contemplar. Queria fazer parte do
entardecer, sentir a brisa, o calor do sol que já ia se pondo, o canto dos
pássaros, o voar da borboleta; sentir-se vivo e completo como esse mundo ao seu
redor. Inspirou profundamente e sentiu-se feliz. Via, agora, coisas que a limitada visão através dos
vidros da janela não lhe mostravam: o verde-amarelo nas laranjeiras carregadas,
o vermelho-vivo das pitangas e acerolas, os caquis misturados, ao chão, com as
folhas secas; o abacateiro que se erguia, com a promessa de muitos frutos, as
maquinas colheitadeiras ao longe, destacando-se, no verde das arrozeiras já
pontilhadas de sacos brancos, os coqueiros. Todo um lugar fervilhando, pulsando
no ritmo constante da vida que todo dia se renova.
Voltou
para casa, olhando tudo ao seu redor, e sentiu paz. Poderia terminar seu dia,
sabendo que a vida corria, normalmente.
Nossa um texto cheio de sentimentos e mistério, beijos ☻ tenha um lindo dia!
ResponderExcluirBeleza de texto, do tipo que eu gosto de ler e escrever tb :-).
ResponderExcluirVocê escreve há muito tempo Mari.
ResponderExcluirEu só me perdi um pouco nos movimentos do personagem, tive que reler com maior atenção para compreender (ou supor) que a pia ficava perto a janela e a cadeira também.
O sentido que podemos tirar deste conto é o de tantas pessoas que só ficam na janela, ou seja, observando de longe as coisas boas que o mundo tem, sem ter a coragem de fazer o que ele fez, levantar da cadeira (zona de conforto), ir até a porta e encarar a vida de frente.
Isto poderia até mesmo ser comparado ao mundo das "janelas virtuais", quanto tempo se passa diante delas vendo coisas legais enquanto a verdadeira paisagem que está ao nosso redor é ignorada.
Oi Mari,
ResponderExcluirTudo bem? Um texto que retrata bem a dinâmica de vida perdida e com intensa realidade.
Beijos.
Lu
Lembrei tanto da minha infancia na roça..rs
ResponderExcluirVerdade... a minha também. Aliás, escrevi o texto em uma tarde na casa dos meus pais. Os sons retratados no texto eram os que eu estava ouvindo, as árvores eram as que estavam plantadas em frente à casa. Passei infância, adolescência e um bom tempo da idade adulta no meio rural, aliás, ainda passo, de certa forma.
ExcluirBoa tarde, Marina.
ResponderExcluirEnxergar e ver são duas coisas diferentes; assim como ver e fazer parte de algo.
Muitas vezes, para podermos enxergar algo verdadeiramente, temos de mudar nossa perspectiva.
Excelente texto, realmente.
Abraço, Marina.
Barbie, ops! Mari!
ResponderExcluirTudo bem?
Texto muito bem escrito, gostei mesmo.
Fiquei pensando aqui na questão da realidade versus expectativa. Como se a letargia da vida tivesse tirado algo do personagem, mas que ele não busco mais.
Beijos e ótimos dias!
Lembrei-me de quando eu ia a praia ao por do sol, sentava na areia e ficava observando o ir e vir das ondas, o som que o mar fazia e o vento que soprava meu rosto... sentia o cheiro que vinha dele e as coisas belas que ele me fazia pensar.
ResponderExcluirComo é bom estar viva, se sentir viva... lindo texto.
Obrigada pelo apoio e por suas palavras... Bjs
Olá Mari,
ResponderExcluirSabe, uma coisa que adoro nos seus textos é que eles são muito agradáveis de ler e a medida que vamos lendo, formamos de imediato a cena na mente, e como sempre digo isso só acontece com os textos bem escritos.
Eis um bom exemplo que independente de nós, o mundo continua a girar e a vida segue...
Adorei.
Abraços, Flávio.
--> Blog Telinha Crítica <--
Ótimo texto, Mari!! *-*
ResponderExcluirÉ uma crônica bastante reflexiva.
Trás à tona a idéia de que não devemos ficar esperando e apenas observar, mas vivenciar e ir atrás.
Viver.... não apenas existir!
Oi Mari!
ResponderExcluirOlha., muito bom o texto...e de 2001? Nossa, vc já escreve (e bem!) há muito tempo. Parabéns!
Bom, há diversos mangás/animes com uma temática que aborda religião - não no conceito religioso, mas pegando a temática. E eles sempre m isturam com mais alguma coisa. Mas o Chrono Crusade aborda uma questão de fé e um enredo histórico (no ponto dos tais segredos de Fátima) que fica bem interessante.
bjs