- Utopia, utopia.Essa é a palavra. Sabe, utopia, do grego lugar nenhum? Então.Utopia é caminhar, caminhar e nunca chegar ao destino. Tipo sabe aqueles desenhos animados em que penduram uma cenoura em um fio, amarram em uma vara comprida e ficam colocando na frente do cavalo para que ele tente pegar a bendita cenoura enquanto puxa a carroça? O pobre cavalo nunca vai alcançar a cenoura, mesmo assim anda, anda e anda e enquanto isso vai puxando o peso da carroça atrás dele enquanto o cocheiro fica de boa segurando a tal da vara. E isso sabe-se lá por quanto tempo. A não ser que de alguma forma a vara quebre, aí a cenoura cai no chão e o cavalo finalmente consegue saborear a bendita para logo depois descobrir que uma cenoura só não mata a fome e ter de procurar algo mais para comer.
A gente é esse cavalo, puxando um peso atrás de nós sem perceber, ou até mesmo percebendo mas achando normal enquanto persegue uma cenoura. Se consegue alcançar o que queria, não fica satisfeito e sai perseguindo outro sonho.Até chegar no caixão, aí não tem mais o que caminhar. Dá para entender por que dizem que as pessoas vão descansar em paz nessa hora, depois de passar a vida toda caminhando! Eu vou pular fora deste sistema, não quero cenouras e não vou puxar carroça coisa nenhuma. Mas não era disso que eu queria falar. Devaneei demais,deve ser a caipirinha, acho que esta é a quarta.
Eu prometi que não ia dar vexame hoje, sabe. Hoje é o casamento do meu filho. Mas há tempos não coloco uma p***a de uma gota na boca, e se uma festa como essa não é motivo para beber, então não sei o que é. Não preciso dirigir hoje, não vou trabalhar amanhã, estou feliz porque meu filho está casando, então me deixem beber, caramba! Eu não vou dar vexame, meu esposo me fez prometer. Epa, ele está passando, deixa eu esconder o copo. Oi, querido, estou tão feliz! Pronto, ele passou, deixa eu pegar essa caipirinha que está muito boa.
Minha nora é um doce de pessoa, claro que estou feliz pelo casamento. O que posso dizer dela além disso? Claro que achei estranho o dia em que entrei no banheiro que estava com a porta destrancada e a vi cantando wisky a go-go nua usando o escovão da privada como microfone, mas mesmo assim ela é ótima, caiu do céu para meu filhote. Eu não te conheço, deves ser convidada da noiva, né? Então esquece o que eu falei, dá um desconto que a culpa é da caipirinha. Garçom, me vê mais uma,se tiver caipiruva melhor ainda. Festas assim fazem a gente se sentir viva, não é? Meu Alex ainda esses dias atrás era um pirralhinho, agora está casando, está mais alto que eu e é tão lindo que se não fosse meu filho eu dava uma piscadinha. A música também está boa,assim que passar a tonteira vou dançar. Quero arrastar meu marido que há tempos não quer dançar nem valsa para a pista, se ele não vier vou com outro. Eu quero dançar, quero fazer festa e rir bastante, não vou casar outro filho então tenho de aproveitar hoje. Ah, sim, meu marido há tempos não dança e até para outras coisas tá difícil de sair da rotina, mas não espalha, eu falei que hoje não ia dar vexame. Vou terminar esta caipirinha e pronto, jogar uma água no rosto e fazer um brinde aos noivos, mas acho que já fizeram. Ei, você é legal, mas até agora não falou nada. Nem seu nome eu sei. Olha prá mim, guria. Nossa... você me é familiar. Por que tá abrindo a boca ao mesmo tempo que eu mas não fala nada? Ei, nem te cumprimentei antes, prazer.. nossa, que pele fria. E dura.. mas você não tem cara de vampira. Estamos usando o mesmo tipo de vestido. Caramba, eu tenho uma irmã gêmea perdida! Dá aqui um abraço.... ai!!!Cara***, você é um maldito espelho! Fiquei falando sobre mim para meu reflexo, que raiva, toma, espelho de m***a que me fez perder tempo! Ué, por que a música parou? Calma, Alessandro, eu estou bem, que esposo dedicado você é, eu só estava brigando comigo, é uma longa história. Sim, minha mão está doendo, mas tá tudo bem, é só um pouco de sangue, tem um pano aqui para limpar, epa, era meu vestido. Vou ao banheiro me lavar e vou estar nova em folha logo. Não, eu não vou dar vexame, caramba, eu quero me divertir, é a festa do nosso filho e estou feliz! Dá para deixar de ser chato e dançar comigo pelo menos hoje? Qualquer coisa,quero sacudir! Não, não quero ir para o carro. Quem está dando vexame é você, Alessandro, que vergonha não me deixar ficar na festa do meu próprio filho! Daqui eu não saio, hoje vamos dançar.
Ah, depois quero te apresentar uma pessoa, que é um reflexo... ah, pera aí, ela quebrou. É uma longa história. Um brinde aos noivos e por favor toquem whisky a go-go mas escondam as escovas de privada!
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Este sim é um devaneio, e dos bons!
ResponderExcluirGostei muito! Me deu aflição... Se tivesse alguém do meu lado devaneando assim acho que a levaria pra um outro lugar. Talvez não, que mal tem em se divertir num dos dias mais felizes da vida?
Gostei mesmo!
Beijos