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Imagem tirada da Wikipédia |
As ondas de vaidade inundaram os vilarejos
E minha casa se foi como fome em banquete
Então sentei sobre as ruínas
E as dores como o ferro e a brasa e a pele
Ardiam como o fogo dos novos tempos
Onde eu estava com a cabeça? Fui me deixar levar pela vaidade, pela jactância, e agora estou aqui, cabeça entre as mãos, contemplando as ruínas de meu orgulho.
Que adiantou tantos anos se impondo, usando escadas vivas para alcançar um topo, sempre tornado inatingível pela ganância?
Novos tempos se anunciam. Não há mais espaço para pessoas como eu.
E regaram as flores do deserto
E regaram as flores com chuva de insetos
E regaram as flores do deserto
E regaram as flores com chuva de insetos
Estrago tudo o que eu toco, quebro de vez tudo o que tento consertar. Com os cacos de minha autoconfiança desfeita monto este rosário de queixas e vergonha que me tornei, por culpa total e completamente minha.
Mas se você ver em seu filho
Uma face sua e retinas de sorte
E um punhal reinar como o brilho do sol
O que farias tu?
Se espatifaria ou viveria
O espírito santo?
Não tenho mais o que fazer. Me servi do poder, me embriaguei com palavras vãs, enredei seres criados à minha imagem e semelhança em promessas doces e amargas desilusões, tudo para me sentir pleno. Ignorei completamente a lei do bumerangue: o que é lançado, volta para quem lançou.
Aos jornais
Eu deixo meu sangue como capital
E às famílias o punhal
À corte eu deixo o sinal, sinal!
E regar as flores do deserto
E regar as flores com chuva de insetos
Deixo o sinal de meu completo fracasso como pessoa humana: um império em ruínas para meus descendentes. O punhal da vergonha cravando-se na vida deles. O meu sangue impuro, de pessoa impura, perpetuará nas gerações futuras, contra minha vontade. Serei mencionado nos diversos jornais, porém isso não importa mais agora.
Escrevo esta última carta, e vou-me para o deserto, para ser esquecido, carregando junto comigo essa chuva de acusações, pecados pesando sobre minha cabeça como chuva de insetos.
Unirei-me às dunas de areias, desintegrarei-me e, esfarelado, transportar-me-ei para destinos ignorados. Sem deixar traços.