"Quantas vezes eu estive
Cara a cara com a pior metade?
A lembrança no espelho,
A esperança na outra margem"
Cara a cara com a pior metade?
A lembrança no espelho,
A esperança na outra margem"
Juliana estava irritada naquele dia. Irritada consigo mesma.
"Quantas vezes a gente sobrevive
À hora da verdade?
Na falta de algo melhor
Nunca me faltou coragem"
À hora da verdade?
Na falta de algo melhor
Nunca me faltou coragem"
Confrontada com suas vaidades, seus destemperos, suas crenças, sabia que nada mais seria igual,muito menos ela mesma.
"Se eu soubesse antes o que sei agora
Erraria tudo exatamente igual..."
Erraria tudo exatamente igual..."
Mas não mudaria tanto por outras pessoas. Nem mesmo por causa de Célio.Nem mesmo para alegrar quem amava. E teria feito tudo de novo. "Errar exatamente igual", mas com outro aprendizado, talvez.
"Tenho vivido um dia por semana
Acaba a grana, mês ainda tem
Sem passado nem futuro,
Eu vivo um dia de cada vez"
Acaba a grana, mês ainda tem
Sem passado nem futuro,
Eu vivo um dia de cada vez"
Viver um dia de cada vez. Deixar o tempo escorrer suavemente, esquecer os ponteiros. A cada dia basta seu mal. E Célio, se queria continuar fazendo parte de sua vida, que aprendesse também a viver um dia de cada vez.
"Quantas vezes eu estive
Cara a cara com a pior metade?
Quantas vezes a gente sobrevive
À hora da verdade?"
Cara a cara com a pior metade?
Quantas vezes a gente sobrevive
À hora da verdade?"
Algo mais estava incomodando... Ah, sim. Seu reflexo no espelho, que há tempo não sorria. E por que não sorria? Estava bem estabelecida, tinha emprego, casa, marido. Às vezes viviam à turras,só para depois fazer as pazes. Uma relação de amor e ódio quase escravizante. E a culpa era.... dela.
"Se eu soubesse antes o que sei agora
Iria embora antes do final..."
Iria embora antes do final..."
Se soubesse que teria dado à sua vida um rumo tão patético, talvez tivesse acabado com isso mais cedo. O trabalho estava enfadando, o relacionamento não preenchia mais, a casa começava a ter trincas. E a vida parecia estar cansada dela, Juliana, também.
"Surfando karmas e dna
Eu não quero ter o que eu não tenho
Não tenho medo de errar!"
Eu não quero ter o que eu não tenho
Não tenho medo de errar!"
O estalo veio ouvindo essa letra de música: relembrando a adolescência, quando parecia que tudo estava sorrindo e desabrochando ao redor dela. "Não tenho medo de errar"! Será que ainda podia afirmar isso?
"Surfando karmas e dna
Não quero ser o que eu não sou
Eu não sou maior que o mar..."
Não quero ser o que eu não sou
Eu não sou maior que o mar..."
Não queria ser o que não era. Não queria mudar tudo e todos ao redor. Juliana só queria voltar a ser ela mesma. Queria que a vida voltasse a sorrir. Queria voltar a sorrir para a vida.
Encontrar-se novamente, reconhecer aquele rosto no espelho, aqueles olhos, como seus. Reconhecer como sua aquela vida. E ter coragem para mudar o que tanto estava incomodando.
Mas o que incomodava? Os sonhos perdidos?
Não. A sensação de que tudo o que escolheu a estava amarrando. Que as escolhas que fizera não estavam surtindo o efeito esperado. Ela não estava feliz.
"Na falta do que fazer, inventei a minha liberdade!!"
Queria ser livre e estava dando o primeiro passo: mostrando a Célio, e principalmente a si mesma, que não continuaria concordando com tudo, só para não perder o que já conquistara. Tinha vontades próprias e opiniões que deveriam ser respeitadas.
Um pouco de recíproca do mundo, poxa. Já fizera e dera tanto aos outros, e o que estava recebendo de volta? Do trabalho, recebia de volta o cansaço e a maldita promoção que não chegava nunca.
De Célio? Um mau humor constante. Sabia que o amava, e que ele também. Mas ela se esforçava tanto para tratá-lo bem, para não trazer problemas para casa, para manter o ambiente do lar bom.. e há quanto tempo não recebia de volta uma palavra de afeto? Um incentivo?
Bem, agora iria virar a mesa. Voltar e recuperar o pedaço dela mesma que estava perdido.
"Surfando karmas e DNA"....
(talvez continue, talvez não)
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