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18 de jul. de 2012

O Salto ( para a derrocada)

Imagem tirada da Wikipédia
As ondas de vaidade inundaram os vilarejos
E minha casa se foi como fome em banquete
Então sentei sobre as ruínas
E as dores como o ferro e a brasa e a pele
Ardiam como o fogo dos novos tempos

Onde eu estava com a cabeça? Fui me deixar levar pela vaidade, pela jactância, e agora estou aqui, cabeça entre as mãos, contemplando as ruínas de meu orgulho.
Que adiantou tantos anos se impondo, usando escadas vivas para alcançar um topo, sempre tornado inatingível pela ganância?

Novos tempos se anunciam. Não há mais espaço para pessoas como eu. 

E regaram as flores do deserto
E regaram as flores com chuva de insetos
E regaram as flores do deserto
E regaram as flores com chuva de insetos

Estrago tudo o que eu toco, quebro de vez tudo o que tento consertar. Com os cacos de minha autoconfiança desfeita monto este rosário de queixas e vergonha que me tornei,  por culpa total e completamente minha. 


Mas se você ver em seu filho
Uma face sua e retinas de sorte
E um punhal reinar como o brilho do sol
O que farias tu?
Se espatifaria ou viveria
O espírito santo?

Não tenho mais o que fazer. Me servi do poder, me embriaguei com palavras vãs, enredei seres criados à minha imagem e semelhança em promessas doces e amargas desilusões, tudo para me sentir pleno. Ignorei completamente a lei do bumerangue: o que é lançado, volta para quem lançou.

Aos jornais
Eu deixo meu sangue como capital
E às famílias o punhal
À corte eu deixo o sinal, sinal!
E regar as flores do deserto
E regar as flores com chuva de insetos

Deixo o sinal de meu completo fracasso como pessoa humana: um império em ruínas para meus descendentes. O punhal da vergonha cravando-se na vida deles. O meu sangue impuro, de pessoa impura, perpetuará nas gerações futuras, contra minha vontade. Serei mencionado nos diversos jornais, porém isso não importa mais agora.
Escrevo esta última carta, e vou-me para o deserto, para ser esquecido, carregando junto comigo essa chuva de acusações, pecados pesando sobre minha cabeça como chuva de insetos.
Unirei-me às dunas de areias, desintegrarei-me e, esfarelado, transportar-me-ei para destinos ignorados.  Sem deixar traços.




9 comentários:

  1. Olá, Marina.
    Concordo com o texto; desta vida, a única coisa que deixaremos para trás será o nosso nome e nossas realizações; se, por medo, egoísmo ou preguiça, nada fizermos, que nosso nome seja esquecido pelas gerações futuras, já que não será digno de ser lembrado.
    Abraço.

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  2. Bem contundente. A amargura da própria derrocada, a percepção tardia do fracasso, da vida de derrotas, sem luta e sem objetivos. O final é esse, o esquecimento, a desintegração no deserto da própria existência.


    um abraço.

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  3. Pena minha net tá ruizinha pra ouvir a musica, eu gosto muito da banda, tem muita musica boa, de qualidade e que letra triste e amargurada!!

    Vou deixar aqui colada a mesma resposta que eu dei ao Chris sobre a chegada do Roc a minha casa e como meu marido reagiu!! Rsrsrsrs... Bjs

    Meu marido não estava em casa quando eu cheguei com o Rock, então eu esperei meu marido no portão e perguntei se estava de bom humor, ele me disse fazendo uma leve careta: O que vc já aprontou, já sei, outro gato.
    E eu: Não extamante, ele late na verdade.
    A cara que ele fez foi de: MEU DEUS NÃO FALTA MAIS NADA NESSA CASA.
    Entrou dizendo que arrumaria um dono pra ele, mais eu disse que tinha uma coisa nele que ninguém iria quere-lo facil, então ele entrou e olhou o Rock, ainda muito assustado nem levantou da caminha, mais eu o peguei e o coloquei no chão, de imediato meu marido viu o defeito na patinha dele, e ali decidiu: -Ele tem um deficiencia? Então deixa ele aqui, ele vai ser bem cuidado, depois levamos ao vet pra ver a patinha dele.
    Sabe homem como é né? Meu marido se faz de durão, mas é uma manteiga derretida...
    Rsrsrsrsrs... Fora que o Rock deu aquele olhar de carente que nem na foto e meu marido de cara se apaixonou!! Rsrsrsrsrs... e foi assim!! Bjs

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    Respostas
    1. Que bom que tudo deu certo, então! E com certeza, quem não se renderia àquele olharzinho de "me ame" do cachorrinho???
      Boa semana.

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  4. Assim, adorei a postagem. Me fez lembrar como as vezes tomo atitudes incoerentes sem pensar, de forma vã (nem sei se existe a tal expressão). Nada na vida é de graça e penso que marca deixarei para o mundo quando eu me for.
    Beijão, Sabrina Gomes ♥(www.spiderwebs.com.br).

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  5. Olá marina, obrigada pela visita e pelas palavras maravilhosa que deixaste por lá.
    O que deixamos para trás é nossa historia contada por aqueles que amamos, não nos é justo ficar nos condenando por um momento infeliz ou por não ter feito o que é certo, isso nada importa, o que realmente importa é se livrar de todo pensamento de auto critica e gritar por liberdade e felicidade. que sua batalha seja por você e não para alguem. Não podemos ficar esperando por elogios ou como foi boazinha e sim viver sem se importar com opiniões. Nossa cabeça é nosso guia e nem sempre acertamos. Somos humanos e muito falhos, mas com oportunidades de acertos. A vida nos ensina muita coisa.
    Gostei muito da postagem e colocar os bichos para fora em forma de musica não é nada mal.
    Seja sempre bem vinda.

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  6. Oi, Marina, tudo bom?
    O Fracasso pode levar as pessoas a renunciarem a tudo o que possuem. Carregar essa vergonha é um fardo pesado e muitos desistem no meio do caminho.
    Procurar deixar um bom exemplo pra quem fica, ou até mesmo uma boa lembrança, é essencial pra que a vida faça algum sentido.

    Gostei do texto intercalado com a música.
    Tenha uma boa quinta. Beijo.

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  7. Barbie, ops! Mari!
    Muito bom o texto!
    Me lembrei um pouco de uma crônica que escrevi ano passado sobre o que deixar aos filhos, e colocava que era o 'nome' e tudo que significava isso, de modo amplo. E penso que teu texto versa de forma parecida, pois o que devemos fazer na vida é viver com propósitos e não desperdiçar momentos nem pessoas, nem essa oportunidade. Enfim: honrar nosso nome.
    Beijos!

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  8. Eu penso que nunca seja tarde para recomeçar após um fracasso, ou uma sucessão de fracassos. E esta culpa toda do personagem leva a auto-piedade, que só o fará afundar cada vez mais, contudo, parece que é esta mesmo a intenção. Devemos fazer as coisas por nós mesmos e não pensando nos outros. Que importância as pessoas dão tanto em serem lembradas quando já nem mais estarão aqui? Nossa única garantia é o aqui e o agora, depois...

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