Muita gente trata mal idosos porque eles nos lembram de
nossa finitude.
A ideia de que não teremos saúde para sempre e que nossos
corpos não responderão para sempre do jeito imediato que queremos, faz com que
muitos de nossos irmãos maltratem os idosos, pois não gostam de se ver neles. É
a janela para um futuro que não querem admitir.
Da mesma forma, muito do preconceito contra pessoas com deficiência vem da sensação desagradável de ser confrontado com a realidade, do medo do "diferente".
Precisamos fazer com que a acessibilidade seja muito, muito mais discutida. Estamos em 2022 e ainda se apresentam projetos de prédios, construções, ruas.. sem levar em conta que não apenas as pessoas jovens, com todos os membros do corpo proporcionais, com faculdades mentais dentro do espectro que fomos ensinados a considerar normais irão ocupar estes espaços.
Simplesmente parece que as pessoas não sabem que um dia irão envelhecer, que de uma hora para outra podem ficar com movimentos limitados, ou que todo dia nasce alguém com limitação física ou mental. Que há mais de uma maneira de se locomover, de pensar, de realizar as tarefas cotidianas.
É um direito básico, o de ir e vir, que não se leva em conta. Ainda há prédios novos sendo construídos sem levar a acessibilidade em conta, ainda há escolas e até mesmo hospitais sem corrimão e rampas decentes, supermercados, shoppings, bares, restaurantes.. sem recursos mínimos para garantir o básico.
A lei diz que é direito dos estudantes terem acessibilidade: provas em braille, ledores, intérpretes de LIBRAS, tradutores se necessário, auxiliares com formação para lidar com limitações motoras e intelectuais... Mas ainda vemos, em pleno 2022, instituições negando este direito, "empurrando com a barriga", escolas particulares negando matrícula de estudantes com deficiência, prédios públicos com rampas inadequadas, pessoas sem tato sendo mal-educadas quando questionadas sobre o direito a acessibilidade.
Há calçadas com piso tátil para pessoas cegas/com baixa visão, mas tem gente que não sabe para que ela serve, pensando que o piso no meio é para dividir a calçada para que de um lado passe bicicletas. Sério, já ouvi isso e não faz muito tempo.
Esse direito de ir e vir parece ser tão negado a pessoas que "são diferentes", que há as que preferem não sair de casa pois se sentem constrangidas com olhares, cochichos, expressões que vão de escárnio a "pena".
"Aquela pessoa idosa sujou a mesa, não consegue nem comer direito. Levar para comer fora é um incômodo"; " Aff, tive de esperar mais para poder entrar na loja porque a pessoa na minha frente caminhava muito devagar, por que outra pessoa não foi no lugar dela e ela ficou no carro?"; Ou ainda "há crianças com 'um grau de deficiência que é impossível a convivência' ".
Não podemos nos considerar uma espécie evoluída, ou dizer que estamos avançando enquanto sociedade, quando diariamente vemos a dignidade humana sendo atacada até mesmo por quem, devido à posição que a própria sociedade lhe dá, deveria protegê-la.
É urgente repensarmos nossas ações, vigiar e cobrar políticas públicas, rever nossos atos para aí sim começarmos a caminhar para uma sociedade que desejamos.