Agora, uma reflexão em forma de historieta:
Maria (vamos chamá-la assim por ser um nome bem comum) recebe um salário mínimo.
Como temos visto nos últimos anos, o salário mínimo não está tendo um crescimento real a ponto de suprir as demandas de Maria.
Ela se deparou com sucessivos aumentos de preços no supermercado e o bolso sente bastante na compra do mês.
Maria comprava leite a R2,00, filezinho de frango a R$ 12,00, pão a R$ 4,00... isso no início de 2021. Ainda com a pandemia rolando e a vacinação apenas começando.
Hoje em dia, o leite está R$ 5,00 ( o mais barato, Maria trocou de marca), o filezinho mais barato está R$ 21,00 e o pão já está chegando a R$7,00.
O salário dela continua praticamente o mesmo, pois o reajuste foi pequeno e não deu conta, quase diluiu. Enquanto isso, os patrões de Maria, que não puderam aumentar seu salário "por conta da pandemia" mas conseguiram trocar de carro "apesar da crise", postam nas redes sociais a seguinte frase: " Para mim nunca falta carne, pois eu trabalho".
Ou seja, para muitas pessoas que postam a "linda" frase acima, denotando uma enorme falta de empatia, quem ganha salário mínimo não está mais comprando carne como antes não porque o dinheiro não basta, mas porque "não trabalha"? É isso, produção?
Milhares de Marias, de Josés, de Antônios, estão aí trabalhando 30, 40, 44 horas por semana, com salário fixo ou não, batendo ponto ou correndo risco em lugares diferentes todos os dias, às vezes mal conseguindo pagar todas as contas e ainda se alimentar de forma pouco satisfatória, mas quando dizem que gostariam de sonhar com um pouco mais têm de ouvir: "Não se ganha nada de mão beijada, se você trabalhar não falta nada".
Falta de empatia, de consciência de classe, de compaixão.
Infelizmente conheço muita gente com essa falta de consciência.
Monstros? Não.
São pessoas que também trabalham o dia todo. Ganham um pouco mais que o salário mínimo e não tiveram de reduzir suas compras, pois o encarecimento de produtos básicos as afetou menos que a outras pessoas. São pessoas batalhadoras, muitas vão à igreja, realizam seus trabalhos com honradez, cuidam de suas famílias, são pessoas bem vistas: o senhorzinho aposentado que varre a calçada todos os dias, a professora que não percebe o quanto a Educação foi prejudicada nos últimos anos, o médico de confiança de centenas de famílias que não percebe o problema desse tipo de pensamento. Por que? Porque estas pessoas ainda enxergam de forma superficial os problemas que assolam a vida de milhares de outros brasileiros. A noção de coletivo destas pessoas está embotada e não é por causa do atual presidente. Elas já eram assim, foram criadas e aprenderam a pensar desta forma. O bolsonarismo apenas ampliou o alcance deste tipo de pensamento, reverberado pela internet que ligou estas pessoas com pensamentos reacionários umas às outras, criando um grande coletivo.
Não são pessoas realmente ruins. Mas o fanatismo e o ódio cego a algumas denominações partidárias,minorias, profissões, locais de moradia, entre outros, engessam o pensamento delas.
Fico triste com tudo isso, pois vejo um estrago que custará muito tempo para ser reparado.