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10 de ago. de 2022

Dia de Chuva

 Hoje uma manhã de chuva e frio. Como muitas outras que já aconteceram e acontecem desde que o mundo é mundo. 

Estou aqui, aproveitando alguns dias de licença e observando da janela a manhã passar. Passarinhos cantando por perto, barulhinho da chuva,o friozinho... Me trazem tantas lembranças legais! 

Lembro da infância, quando nos dias de chuva gostava de ficar no quarto de costura ouvindo o barulhinho da máquina enquanto lia gibis ou brincava com minhas bonecas e bloquinhos de montar. 

Lembro do cheiro de "orelhas-de-gato" sendo preparadas, pois minha avó e tias aproveitavam dias assim para prepará-los. Depois de prontas, eram armazenadas em latas grandes que antes armazenavam margarina ou óleo. Nestas latas também armazenávamos "doce pintado" e muitas vezes banha, pois nossa família e vizinhos criavam porcos, vacas, galinhas.. em casa. 


Lata de margarina Primor, com capacidade para 16,4 Kg. Algo comum nos anos 1980.


Tive uma ótima infância de pés descalços na grama, nas poças de água, comendo fruta do pé, como muitas crianças que nasceram e cresceram no interior tiveram. Eu adoraria se pudesser ter uma criança crescendo da mesma maneira! 


Lembro que minha mãe costurou uma capa de chuva para eu poder ir à escola em dias assim. Lembro do fogão a lenha aceso, da comida feita na hora, das fatias de polenta colocadas na chapa. 

Em dias assim também era bom desenhar, ou ficar enrolada em um cobertor ouvindo rádio ou assistindo desenho animado na TV preto e branco. 

Desde criança, mesmo adorando brincar fora de casa, sempre gostei dos dias de chuva. Ficar contemplando a chuva cair, deixar a mente voar, ficar sentada perto do fogão a lenha! Ainda lembro do lugar no fogão a lenha em que gostava de sentar, cada um de nós tinha o seu canto. Em dias como os de hoje, nem sentávamos à mesa para almoçar: cada um pegava uma cadeira ou sentava no "caixão de lenha" perto do fogão e almoçávamos aí, no quentinho. 

Fogão a lenha em cor cinzenta construído, fixo na cozinha. Em cima da chapa vê-se um tacho de barro.
O fogão nesta imagem está apagado. 


Talvez por isso eu goste de dias assim: remetem ao aconchego de ficar dentro de casa, ao calorzinho do ambiente e das pessoas mais perto umas das outras. Sem falar que a gente tinha mais tempo para pensar, mesmo que fosse "em nada"... uma impressão que eu tinha. 

Em dias assim, as memórias de infância aparecem mais fortes. E agora, adulta, de novo um dia perfeito para pegar o cobertor, ficar olhando pela janela com uma xícara de café ao lado! 

(Um pequeno parênteses: a chuva aliou-se a ventos aqui em SC desde ontem, então há vários municípios sofrendo muito com deslizamentos e ventos fortes. Desejo a todos que possam passar por isso apenas com danos materiais). 


Até a próxima! 

27 de abr. de 2022

Carga mental e o cotidiano

 Essa semana estava conversando com minhas colegas de trabalho e logo o assunto se concentrou nas que são mães. A maioria relatava que se não fosse por elas em casa, os cadernos dos filhos não seria assinado quando tivesse recado das professoras. Também relatavam que se caíssem doentes, ou viessem a faltar, o marido/companheiro simplesmente não saberia realizar coisas básicas sozinho, como dar banho no(s) filho(s) ou saber onde estão guardadas as roupas. 

Comentei com elas que, apesar de não ser mãe, acho isto um absurdo e que nossos companheiros,a não ser que tenham alguma limitação, são adultos funcionais e deveriam saber o mínimo da organização da casa/rotina dos filhos. 

Por isso que toda vez que ouço pessoas reclamando sobre a "mulher chata", a "mãe chata", penso logo que podem não ser pessoas chatas e sim cansadas. 

Qualquer pessoa que depois de trabalhar um dia inteiro ainda tivesse de ter apenas para si a obrigação de organizar a casa/verificar atividades de casa dos filhos/preparar jantar/lavar/cozinhar.. enquanto a(s) outra(s) pessoas adultas se limitassem a chegar do trabalho e ir simplesmente descansar, ficaria "chata" com o tempo, pois a carga mental e as pequenas - ou nem tão pequenas assim - responsabilidades cansam, saturam, incomodam. 

São atribuições "invisíveis" mas que cansam além da conta quando mais ninguém as toma para si: Lembrar da hora do remédio do fulano, das datas em que as contas vencem, de separar as roupas que irão para a máquina porque senão outro familiar irá misturar tudo, lembrar quais itens de limpeza precisam ser comprados, lembrar de colocar o lixo para fora, das datas em que se tem consulta médica, das reuniões de pais na escola das crianças, de guardar cada louça em seu lugar... E muitas vezes, ainda ter de ouvir das outras pessoas que moram na casa: " se precisar de ajuda é só pedir", sabendo que na maioria das vezes nem pedir adianta. 

Em 2018, no Twitter, houve uma hashtag: #porramaridos, que mostrava vários exemplos como o acima, e até piores. Claro que também poderia ser #porraesposas ou #porranoivos, #porra...qualquer outra pessoa, mas as maiores queixas eram justamente de mulheres em relação aos esposos. 

Por que? 

Uma palavra: Condicionamento! 

Sim, ainda estamos sentindo os efeitos de uma realidade de décadas atrás, no qual um era o "provedor" e outro " funcionário(a) do lar". cujas atribuições eram bem distintas e não se misturavam. Porém, esta não é mais a realidade de hoje e não podemos continuar criando nossos filhos desta forma

Conheço uma pessoa que, em uma visita que realizei à casa dela, disse para a companheira: Olha, lavei o copo que usei, tá? 

Minha vontade foi responder: "Quer o que, uma medalha por ter feito o mínimo?"

Sim, muitas de minhas colegas de trabalho estão cansadas por ter de todo dia pedir que o mínimo seja feito pelos demais moradores da casa. 

Aí quando vêem a pessoa sobrecarregada cansada e reclamando se algo está fora do lugar, ou que outra pessoa na família esqueceu algum compromisso ou sei lá, não recolheu a roupa do varal, ainda ficam indignadas achando que estão sendo injustamente acusadas de "não ajudar na casa". 

Esse verbo, "ajudar", nem deveria ser cogitado. Estamos em 2022, gente. Todo mundo trabalha fora e todos tem responsabilidades que devem ser divididas. A mão não cai se uma louça suja vai pelo menos até a pia. O braço não doí se a roupa suja for levada até o cesto. Ninguém vai questionar sua formação acadêmica se a chuva estiver chegando e você for correndo tirar a roupa do varal em vez de esperar a outra pessoa que já está ocupada fazer isso.

A única frase que me vem à mente quando ouço estes relatos de pessoas cansadas é: TOMEM VERGONHA NA CARA. 

Tomem vergonha na cara, parceiros/maridos/esposas que nem sabem onde ficam as meias nas gavetas! 

Tomem vergonha na cara, pais que atribuem apenas ao outro parceiro, à outra parceira, a função de acompanhar a vida escolar dos filhos! 

Tomem vergonha na cara, pessoas que sujam um prato e nem se dão ao trabalho de ao menos tirar da mesa! 

Tomem vergonha na cara, gente que não troca o papel higiênico quando termina, mesmo sabendo onde os rolos estão! 

Tomem vergonha na cara e admitam que todas as pessoas que moram e dividem os espaços em uma casa tem responsabilidades! 

Assim, o número de "mulheres chatas" irá diminuir bastante! 

30 de ago. de 2021

Acordo tácito

   Todos os dias, Caetano fazia o mesmo percurso: saía a pé de sua casa, com a carteira no bolso dianteiro da calça, ia até a padaria que ficava a poucos metros dali, comprava pãozinho da primeira fornada para chegar em casa e comê-lo quentinho. Contemplava durante alguns minutos a colherada de manteiga derretendo enquanto passava uma xícara de café preto, sem açúcar, que sorvia devagarinho. Lavava a pouca louça, pendurava com cuidado e meticulosamente o pano de prato  para secar no varalzinho que tinha dentro da lavação, fechava a casa toda, se arrumava para o trabalho, conferia novamente se todas as janelas estavam fechadas, pegava a bicicleta e saía assoviando. Tão pontual era essa sua rotina que a vizinhança já sabia que horas eram quando o viam saindo para trabalhar. Também não consultavam seus relógios quando o viam voltando, assoviando melodias variadas, abrindo o portão da frente e em seguida pegando seu regador para aguar as flores do pequeno jardim que mantinha, empreitada que em menos de cinco minutos já estava completa. Em seguida, antes que o escuro da noite tornasse as formas do quinta indistinguíveis, ele fazia uma limpeza na pequena horta que mantinha, tirando ervas daninhas que insistiam em aparecer diariamente. Depois, não mais era visto, até o dia seguinte quando novamente ia comprar o pão quentinho. 

      Ninguém sabia exatamente onde e no que trabalhava, se tinha família ou qual sua idade. O conheciam de vê-lo na rua, quando ia fazer compras ou indo e voltando do trabalho. Cumprimentava e era cumprimentado de volta, participava de conversas corriqueiras (“nossa, que tempo maluco tem feito nesses últimos dias”) e não passava muito disso. Ninguém se sentia seguro o suficiente para ultrapassar essa fronteira de cordialidade entre vizinhos. Também não sabiam exatamente há quanto tempo Caetano morava ali naquela casa, se já havia mais gente ali ou se sempre morava sozinho. A despeito do que tradicionalmente acontecia naquela vizinhança, não costumava visitar outras pessoas, nem convidá-las a visitar sua casa, ou seja, o que conheciam era apenas o que Caetano permitia vislumbrar. E estava tudo bem assim. Ninguém parecia ter problemas com isso, aliás, deveria ter? 

    Até o dia em que um pacote com cinco pãezinhos não saiu da padaria. Não se sentiu cheiro de café. A rua ficou mais silenciosa, sem os costumeiros assobios. Não se viu a bicicleta sair, nem voltar. As flores ficaram esperando no canteiro, pela água que não chegou. As ervas daninhas começaram a aparecer entre as alfaces e pés de tomate. A princípio, os vizinhos pensaram que estivesse doente. A senhora que morava ao  lado notou a casa totalmente fechada. Alguém pensou em ligar, porém notou que não sabia o número de Caetano. Na verdade, ninguém por aí sabia se ele tinha telefone. 

   Várias vezes bateram, chamaram, gritaram, inutilmente. Resolveram então chamar a polícia. A porta foi arrombada e a surpresa tomou conta de todos. Tudo na casa estava impecavelmente arrumado, em perfeita ordem...porém o cheiro típico de casa fechada e uma camada de poeira não tão fina sobre todos os móveis e piso parecia mostrar que seu dono a abandonara há mais que apenas dois dias. 

Não havia registro de nenhuma pessoa chamada Caetano na delegacia, ao menos não com as características físicas que o desaparecido apresentava. Nenhum número de contato pendurado na porta da geladeira, nenhuma anotação no calendário que estava na cozinha, nenhuma agenda com telefones. Onde ele trabalhava poderia haver alguma informação, uma das vizinhas comentou, para logo em seguida lembrar que ninguém na vizinhança sabia onde era esse trabalho - e se realmente existia um emprego.

   No pequeno quintal, o regador repousava, seco, perto do canteiro de flores que começavam a sofrer os efeitos do sol inclemente enquanto uma fileira de formigas se dirigia para a horta. O pequeno grupo de vizinhos, silenciosamente, deu de ombros e cada qual dirigiu-se para sua casa, ruminando esse mistério. 

   Ninguém apareceu para reclamar o terreno, procurar por Caetano ou perguntar por ele aos vizinhos. Semanas se passaram com todos tentando fingir que nada de extraordinário acontecera. Mas não foi possível evitar  que teorias, das mais simples às mais mirabolantes, fossem compartilhadas e se espalhassem por todo o pequeno bairro e em breve na cidade toda. 

   Um belo dia, meses depois, a casa amanheceu com as janelas abertas, reacendendo rumores e a curiosidade da quase novamente pacata vizinhança. Conforme o dia passava, o terreno foi sendo limpo e ganhando os contornos de outrora, a água e a energia foram religadas. Canteiros de flor foram reaparecendo, exatamente no mesmo lugar. Um dos vizinhos aproximou-se e ouviu um assobio. Será possível? Teria Caetano simplesmente voltado e retomado sua vida de onde parou? Por uma das janelas, o vulto de uma mulher apareceu. Antes que o vizinho pudesse sair do terreno, a mulher subitamente virou-se e abriu um sorriso: 

- Boa tarde! 

Hesitante, o homem respondeu ao cumprimento e não conseguiu evitar a pergunta que aflorou espontaneamente:

 - A senhora conheceu o sr. Caetano? 

- Quem? 

- Morou aqui antes da senhora. Achei que fosse parente. 

- Nunca ouvi falar. Soube desta casa pelo site de uma corretora e aqui estou. 

- E não foi o Caetano que colocou para alugar?

- Não aluguei, comprei. Não sei quem era o dono. 

- Certo... preciso sair, outra hora conversamos. 

 E os dias começaram a seguir como se a casa nunca houvesse ficado vazia. Irene, este era o nome dela, levantava cedo, saía a pé para pegar cinco pãezinhos frescos, os punha em uma sacola de pano que levava ao ombro, saboreava devagarinho um dos pães com uma pequena colher de manteiga enquanto bebia uma xícara de café preto, sem açúcar. Fechava a casa toda, dava de comer ao gato, saia assoviando com sua bicicleta e voltava quase ao final da tarde, a tempo de regar o pequeno jardim e cuidar da horta, ambos nos mesmos locais e com as mesmas proporções que o morador anterior mantinha. Sentava-se à varanda com o gato no colo e ficava lá até que a escuridão tomasse conta da rua, ou até os pernilongos não a deixarem mais contemplar as estrelas. Depois só era vista novamente na manhã seguinte, quando  ia comprar seus pãezinhos, com sua sacola ao ombro. 

    Ninguém sabia da vida de Irene mais do que ela permitia-se mostrar. E todos ali por perto preferiram continuar sem saber. 

25 de jul. de 2021

Paz sem voz não é paz, é medo


Quando estava no segundo grau, que hoje em dia se chama Ensino Médio, um texto chamou-me a atenção, impressionando de tal forma minha cabeça adolescente que anotei-o no meu caderno de rascunhos:

"Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores, matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada."


Ainda lembro do livro onde li este trecho, da impressão que me causou e de como essas palavras ecoam em minha mente desde então, quase vinte e cinco anos depois. 

Sempre o achei tão contundente, e ele também me lembrava muito a escrita de Bertolt Brecht: 

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

................................................

Os dois textos se relacionam muito quando notamos que deixamos de nos solidarizar, de sentir as dores de nossos irmãos, de mostrar nossa indignação, nem sempre por conivência ou por falta de empatia e sim por medo. Medo da repressão, medo do julgamento, medo de ver ruir nossa pequena estrutura de paz e sossego tão instável. 


Graças à internet, encontrei o restante do texto daquele trecho que tanto me marcou. É um poema de autoria de Eduardo Alves da Costa, o qual deixo abaixo: 

NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!


Queria destacar alguns trechos, mas acabaria destacando o poema inteiro! 
O que podemos fazer para não ficar "sem dizer nada" e por temor, nos calarmos enquanto esperamos inutilmente a democracia aparecer no balcão? 

Cansei de passar tantos anos na escola e na faculdade ouvindo que "um outro mundo é possível", tantas trocas de ideias e até agora parece que nem um centímetro deste outro mundo possível chegou perto da gente. Tem dias que a gente acaba torcendo para que o que chegue mais perto seja o meteoro de uma vez, pois a impressão é de que estamos  vivendo presos dentro do clipe de Do The Evolution, do Pearl Jam. 

Mas nós, pequenos seres humanos vivendo no pequeno ponto azul no imenso espaço, também temos representantes de nossa espécie que "possui a estranha mania de ter fé na vida" e por isso mesmo nos piores momentos não conseguimos, e não queremos, desistir de vez. Precisamos manter nossa alma "armada e apontada para a cara do sossego", como dizia a música d'O Rappa, já que  "paz sem voz não é paz, é medo". Afinal,  "Qual a paz que eu não quero conservar pra tentar ser feliz?"


"Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre" (...)
é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida


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(Gosto muito de ouvir música, cantar e às vezes tentar tocar. Já escrevi muitos textos baseados em canções de diferentes gêneros, e enquanto traçava o começo deste texto, foi inevitável pensar em algumas músicas. Abaixo, deixo as canções que me fizeram rascunhar este costurado de ideias)




Do The Evolution -  Pearl Jam




Maria, Maria - Milton Nascimento





 A minha alma  (A paz que eu não quero) - O Rappa





Até a próxima!!!

16 de mai. de 2021

Procrastinando, devaneando e exercitando a paciência.

 - Vai demorar essa caralha. 

O notebook parado, atualizando o sistema. Depois de vários dias sem ligá-lo, bem nessa hora piscou o lembrete de atualização. Sônia olhou para o relógio, dez da noite de domingo. Não estava fazendo nada urgente mesmo e vivia procrastinando os avisos de atualização do Windows, então pensou: vou deixar atualizar de uma vez. Isso havia sido meia hora atrás e agora a atualização estava em sete por cento. 

É, essa caralha ia mesmo demorar. Pegou seu caderno e começou a anotar o que iria fazer durante a semana. Tinha o costume de fazer listas, já sabendo que não cumpriria metade dela, o que a fazia alternar sentimentos que variavam de "será possível que eu não consigo me organizar?" e "foda-se, vou continuar fazendo listas e nem sempre vou dar conta de tudo". 

A caneta estava cansando sua mão já muito acostumada a digitar. Foi procurar uma outra caneta mais leve, pois a letra estava horrível. Conseguiu encontrar sua caneta preferida, de ponta fina; o polegar agradeceu e a letra fluiu bem melhor. 

Outra olhadela para o monitor: atualização em dez por cento e um aviso na parte inferior da tela: "o computador será reiniciado várias vezes". Nossa, que ótimo. Nesse passo, amanhã pela manhã termina. Já estava se arrependendo e ficando sem ideias para escrever. Ah, e com a consciência de que de novo não cumpriria todos os itens da lista. Voltou a ela e riscou alguns itens para ter a ilusão de que estava sendo mais realista. Ouvindo música enquanto escrevia, imaginou como seria sua vida se tivesse seguido um dos sonhos de infância: cantar. Deixando a mão descansar um pouco e a caneta repousar sobre o caderno, viu-se em um palco, cantando suas músicas preferidas, esquecendo-se por uns instantes que deveria acordar cedo, resolver coisas do trabalho,porque caramba, era domingo. Se não podia se alienar em um domingo, quando poderia? 

Dezoito por cento atualizado. La va lontana. Seu figurino no palco? Simples:  com certeza sua camiseta do Metallica, a calça jeans com rasgos, seus tênis vermelhos e cabelo solto. Quem sabe um chapéu? Playlist bem sortida com Pet Sematary, Black In Black,Psico Killer, Heteronomia, Legado,Danse Macabre,Massacre, And Justice for all para fazer jus a camiseta. E claro, tinha de ter músicas da Pitty, não subiria a um palco se não pudesse cantar Teto de Vidro ou pelo menos Brinquedo Torto.

Já era quase meia-noite e o monitor apontava a atualização em trinta por cento. Fechou o caderno com a caneta dentro para continuar escrevendo no dia seguinte (mentira, o dia seguinte era segunda-feira e nem teria tempo de pegar o caderno na mão), foi ver se todas as portas e janelas estavam fechadas. Deixou o notebook em cima da mesa, virado para um lado para não atrapalhar com a luz da tela e resolveu tentar dormir. 

A atualização foi concluída em algum momento da madrugada que ela com certeza não soube qual, provavelmente quando já havia dormido. E o caderno ficou no sofá da sala até a sexta-feira seguinte. 

6 de abr. de 2021

Digressões linguísticas

 Ás vezes paro para pensar sobre algumas pequenas coisas linguísticas do nosso universo contemporâneo que me intrigam. 

Uma delas, e até mencionei no Twitter, é a tendência nos últimos anos de receitas postadas em sites cuja lista de ingredientes começa com "X unidades" 

"Duas unidades de ovo"

"Uma unidade de cebola" 

"Meia unidade de abobrinha"

Por que não "dois ovos" e "uma cebola"? Não é a mesma coisa? Ou eu sou muito bronca e tem alguma diferença aí, que não percebo?

"Pique a cebola grosseiramente" Imagino uma pessoa picando a cebola e xingando-a durante o processo. O que não seria algo difícil de acontecer levando-se em conta que eventualmente a gente chora fazendo a tarefa, ou seja, xingar a cebola seria devolver um desaforo que ela nos faz. 

"Sal, pimenta e cebolinha a gosto". Aí você vai ver a pessoa coloca a pimenta em colheres, ahaha. (Lembrei de um certo programa da TV brasileira no qual virou piada a fala de um participante perguntando se sete quilos de sal daria para uma semana - aí depende de quem faz a receita "a gosto"). 

Me divirto pensando em como uma palavra pode ter significados diferentes, dependendo do contexto. Bem lembra disto Luís Fernando Veríssimo, quando em uma de suas crônicas mostra que "pois sim" pode ser interpretado como "não" e "pois não" como um "sim", o que no texto mencionado dava um nó na cabeça de uma moça estrangeira. 


O uso da palavra "onde" como coringa também é algo que não entendo como começou... Deve ter vindo do mesmo lugar no qual se originou o gerundismo, até uma década atrás motivo de piadas e memes e hoje em dia incorporado de tal forma que nem é mais percebido. 

" A história da famosa atriz começou na década passada, onde ela nasceu em 1980 na cidadezinha de seiláqualândia, onde ela teve uma infância feliz, onde vivia com seus pais até completar dez anos." Sério, que tara é essa por tanto "onde" nos textos? Chega a ser irritante, já fechei vídeos e páginas na internet de tanto ver esse bendito onde chovendo em tantos parágrafos a ponto de quase ocasionar uma enchente adverbiativa, se é que essa palavra existe. 


Nossa língua tem tantos advérbios e este povo usando "onde" no lugar de outros termos mais apropriados. 

E o  cujo? O cujo virou artigo raro. "Essa é a menina que te falei, que os pais se mudaram semana passada". Sério, o que aconteceu com o cujo? Que eu saiba a reforma ortográfica não proibiu o uso dele. Deve ter sido sepultado junto com o modo subjuntivo, que teve seu espaço ocupado pelo pretérito imperfeito. 

Sim, sei que estou digressionando. Era para falar sobre receitas e termos estranhos e agora estou implicando com gerundismos e o uso excessivo de termos como se fossem palavras-coringa. 

Mas enfim, tudo está no terreno da nossa língua. Que aliás, adoro com cebola e alho  pela riqueza do vocabulário. 

Temos várias palavras e expressões para significar diferentes níveis de contentamento, surpresa, decepção. Inclusive repetindo palavras, mas não em circunstâncias que não cabem como a palavra "onde" que mencionei alguns parágrafos acima. Muitas destas palavras-coringa são palavrões e dependendo de quem está ouvindo, tudo bem. 

Nossa língua é rica, viva e mutável e isso é muito bom. Mas ao mesmo tempo, é bom cuidar para não limitar tanto nosso vocabulário. 

Para que, por exemplo, importar palavras em inglês para situações em que já temos palavras ótimas em português? 

Dá nada, eu também uso expressões em inglês, espanhol, italiano... Mas ao mesmo tempo, não consigo conceber ficar falando "bowl" quando temos "tigela" e "cumbuca". Ou dizer "estou meio down" quando posso dizer que estou "pra baixo", "borocoxô"... 

Uma expressão que gosto muito é "meio assim". Você não precisa completar quando diz que "está meio assim" ou que tal pessoa "ficou meio assim". Todo mundo entende. 

Penso em como sofre quem interpreta o que ouve de forma literal: 

"Chover canivetes"

"Matar cachorro a grito"

"Estar fora da casinha"

"Viajar na maionese"

"Fazer nas coxas"

"Morar em uma meia-água"

"A passos de tartaruga"

"Sem pé nem cabeça" 

Entre outras expressões que me encantam desde que me conheço por gente. 

Mas sério... ainda estou pensando qual o sentido em escrever "uma unidade de ovo", "duas unidades de cebola"... se alguém souber de um motivo válido para isso, elucide minha mente que adora cultura inútil. 




16 de fev. de 2021

Uma carta apenas

 Ontem fez um mês. Um mês. 

Passou rápido, pai. 

Ainda lembro da hora em que 2020 deu lugar a 2021 e você estava do meu lado, comigo segurando sua mão enquanto a alimentação descia lentamente pela sonda. E aquela maldita febre que dia sim dia também começara a dar o ar da graça. 

Ainda assim você viu 2021 chegar, e ainda metade de um mês deste novo ano. Um início de ano triste, com poucas expectativas e fogos tímidos ao longe, por causa da pandemia que ainda não foi embora. 

Não, pai, ainda não tem vacina para todo mundo. Ainda estamos indo trabalhar com medo de pegar esta maldita doença, que a alguns afeta pouquíssimo e  a outros tira a vida ou parte dela. E nossos representantes-mor continuam atrapalhando o programa de vacinação, infelizmente. 

Só no domingo passado tive coragem de ir, junto com minha mãe, visitar novamente o local onde nos despedimos pela última vez. Retirar as coroas de flores já secas, colocar ao menos um vasinho com flores até que seu túmulo, escolhido com carinho pela mãe, fique pronto, como seu legado final neste mundo. 

Não foi tarefa fácil escolher uma foto, sabe? Cada foto que a gente observava tinha uma história atrás dela, mas enfim escolhemos. 

A mãe está bem, fique sossegado. Ela sabe seguir em frente como poucas pessoas nesse mundo. 

Eu também estou bem, nós todos vamos ficar bem. E esperamos que você também esteja. Nossa religião acredita no reencontro, no Reino que há de vir depois do juízo final. De qualquer forma, acredito que sim, você está descansando e nada mais te incomoda. A febre foi embora, o joelho não incomoda mais e você não precisa mais ficar aflito por estar em uma cama sem conseguir falar ou se mexer direito.

Ainda sinto que não te dei atenção o suficiente. Mas imagino que mesmo que estivesse junto contigo o tempo todo, ainda assim teria sensação semelhante. Sabe, pai, a gente muitas vezes passa a vida achando que não se é, não se tem ou não se faz o bastante. E se culpa muitas vezes com razão.. e outras vezes nem tanto assim. O que fiz ou deixei de fazer agora na verdade já não importa tanto. Como também não vai mais fazer diferença para você, ou para a gente, ficar pensando nos muitos "e se"... que poderiam ter mudado os rumos desta história toda. 

Estamos bem.. Vamos todos ficar bem. Fica em paz! 

 


22 de jul. de 2020

A Era da Igorância Orgulhosa (Ou, Ignorância e Arrogância dão uma Ânsia!)

   
   Me sinto vivendo em um país de castigo... Por que as pessoas que poderiam ter feito a quarentena direitinho tinham de ser teimosas e não cumprir as regras? Outros países já reabrindo locais para visitação, planejando competições e shows, e a gente há quase quatro meses ainda nem passamos a primeira onda. E por que? Por terem pessoas egoístas, com falta de consciência. Se só saíssem de casa quem realmente precisa, e quem não tem necessidade sossegasse um pouco em casa, estaríamos em uma situação diferente.
O "brasileiro cordial" a cada década vem perdendo terreno para o brasileiro " se eu estou bem o resto que se dane".
E podemos dizer que esta escalada do individualismo é mundial. Muito triste.

Outra coisa que vemos é a orquestrada divulgação de notícias falsas, hoje em dia chamadas de "fake news".
Divulgação de mentiras ou de meias-verdades não é algo tão "new" assim, praticamente surgiu junto com a sociedade humana. Segundo o livro do Gênesis, haviam apenas dois seres humanos na terra quando a primeira mentira, ou no caso a primeira "meia-verdade" foi contada, então não é de se surpreender que as "fake" nos persigam até hoje.
Parece que a coisa anda mais crônica, mas na verdade o que ocorre é que a internet fez com que as informações, juntamente com as distorções, confusões, mentiras, se espalhem mais rápido.

A "leitura fast-food" (aquela que não passa do título ou escolhe algumas frases em vez de ler o texto inteiro) gera em pessoas incautas interpretações errôneas. As pessoas mal-intencionadas sabem disso e criam munição para atacar ideias, propostas e pessoas com pontos de vista diferentes. E é tudo tão bem orquestrado que as pessoas que querem mostrar a verdade acabam contribuindo com as mentiras, basta ver as famosas "hashtags" em redes sociais. As polêmicas, com opiniões infundadas, mentiras e incentivando conceitos errôneos vivem no topo, muitas vezes por conta dos que querem combatê-las,pois a tal "tag" chama a atenção, deixa as pessoas indignadas e no afã de  desmentir ou combater o absurdo, entram no jogo citando a palavra, fazendo com que fique no topo dos assuntos mais vistos. Assim, atraindo a atenção de outros que talvez nem tivessem conhecimento do assunto e arrebanhando mais pessoas mal intencionadas ou ingênuas.

Falando em más intenções, chego ao que motivou o título deste post: estamos vendo, depois de décadas de luta pela ciência, de tanta gente lamentando a falta de instrução ( neste caso, tanto a formal quanto a necessária para uma boa convivência em sociedade), um movimento inverso, com ideias negacionistas sendo propagadas abertamente e sem pudor por pessoas de diferentes credos, graus de instrução, enfim. A impressão que dá é que não é preciso saber o mínimo sobre um assunto para querer opinar e "lacrar", " massacrar", outra pessoa em um "debate" que na verdade não passa de disputa verbal para exaltar o próprio ego. Vemos isso todos os dias. Gente que não entende uma curva exponencial, por exemplo, querendo explicar estatística, pessoas que tem dificuldade em interpretar textos simples querendo que sua opinião prevaleça sobre os fatos. Que fique claro que não estou menosprezando pessoas que não tiveram oportunidade de estudar ou achando que quem teve mais chance de completar instrução formal tenha mais valor. Mas, fazendo uma analogia tosca, prefiro que um médico formado, com bom conhecimento dos remédios atualmente mais comuns e de seus efeitos colaterais, indique um tratamento a seguir, em vez de uma pessoa que se baseia apenas em seu conhecimento empírico e que não valoriza a ciência.

O problema não é ser "ignorante",pois todos nós o somos em vários assuntos. Afinal, não podemos saber tudo sobre todas as coisas. O problema é essa ignorância orgulhosa. A pessoa que não sabe, não quer buscar o conhecimento para não ser confrontada nas crenças que defende tão ferrenhamente, mesmo não entendendo o porque e ainda se orgulha disso. O tipo de comportamento que está fazendo essa quarentena se alongar ainda mais, deixando a nós, que nos esforçamos para cumpri-la e poder assim preservar tanto nossas vidas quanto as das demais pessoas, com o psicológico abalado e tendo de ser cada vez mais seletivos com o que lemos, ouvimos e vemos para nos manter equilibrados. Exemplos deste comportamento temos muitos, vindos de várias esferas.

 
Aliás, Jaime Guimarães em seu ótimo blog Grooeland, descreve com propriedade no artigo intitulado A Pandemia e o Choro:

"Eis algo que eu não consigo entender: houve um tempo em que demonstrar ignorância era motivo de vergonha e escárnio; hoje, pelo contrário, temos chefes de estado que são idiotas arrogantes e ídolos de milhares de pessoas. Donald Trump e Jair Bolsonaro são dois exemplos que logo saltam à mente. Há outros, claro, porém cito-os porque são símbolos maiores da Idiocracy moderna, duas pessoas que apostam no caos e na desinformação para permanecerem no poder e sustentarem suas legiões de fanáticos seguidores."

      
          Pois é, Jaime, meu amigo.. eu também não consigo entender.

As fake news, a ignorância e a arrogância formam o tripé que levam à condição do primeiro parágrafo deste texto: estarmos ainda "de castigo", sem ter nem passado pela primeira onda da pandemia, quando outros países já passaram ou estão na "segunda onda" dela. E isso acontece porque, além de o conhecimento não chegar a todos como deveria (nem todo mundo tem acesso a informação), ou de chegar distorcido, há a ignorância orgulhosa de quem se firma apenas no que conhece e sabe e não quer admitir que sua opinião pode estar errada. Para quem pensou que a pandemia poderia mostrar seres humanos melhores, podemos dizer: previsão certa e errada ao mesmo tempo. Quem é ético, bom e justo, continuou a sê-lo; quem já era antiético e pouco se importava com o próximo, também continuou da mesma forma. Poucas pessoas mudaram. O que é uma pena. Poderíamos ter a oportunidade de sairmos mais fortes desta situação, de demonstrar a tão propalada garra do povo brasileiro, de seguir o lema de "não desistirmos nunca", mas o "ninguém solta a mão de ninguém" infelizmente parece não ter passado de um lema bonitinho para chamar a atenção em redes sociais.
 
Sugiro fortemente que leiam o artigo do Jaime Guimarães - A Pandemia e o Choro. Já aproveitem para conhecer o blog dele, os textos são muito bons!




16 de mai. de 2020

Bolhas de informação, uni-vos

       Vamos pensar um pouco mais sobre a realidade de nosso país? Uma constatação simples, mas que poucos privilegiados lembram: a internet é inacessível para uma parcela significativa da população brasileira.E uma parte dos que acessam, se "informam" por meio duvidosos, ou nem se informa.

Segundo dados coletados em 2017, em um artigo do Tech Tudo publicado há quase um ano atrás, 61% dos lares estão conectados e o mundo virtual reproduz as desigualdades do mundo fora da rede. (1)

Nós, que temos acesso às redes sociais, sites e blogs informativos, temos uma visão um pouco mais ampla do que acontece em nosso país. Mas, e as pessoas que só se informam por televisão ou rádio? Em 2018, cerca de um terço das casas aqui no Brasil ainda usavam televisor "de tubo", sem falar das regiões sem acesso a sinal digital e com número limitado de canais para assistir. (2)

E as que nem sequer isso tem? Sim ,estamos em 2020 e há pessoas cuja única fonte de informação são as conversas entre vizinhos e o que ouvem dizer na rua. Essas pessoas estão mais expostas a situações de abuso, por não conhecerem seus direitos.

O que tem sido feito para que essas pessoas, parcela significativa da população, sejam informadas devidamente e não vítimas de informações falsas e /ou desencontradas?Fala-se muito sobre a importância de o povo se unir. Mas para essa união acontecer, é preciso vencer outras barreiras. Não é só convencer o vizinho que usa 3g do celular (e que nem sempre consegue uma boa conexão) que "se informa" por aplicativos de redes sociais, de que a pouca informação que recebe é falsa.  É todo um trabalho de base que deve ser feito.

 Há quem adoeça e morra nesta pandemia sem nem saber o que houve. Há quem não faça a mínima ideia do nome do presidente ou das últimas ações dele, por estar preocupado em simplesmente sobreviver. É imprescindível que mais e mais pessoas saiam das suas bolhas, reconheçam seus privilégios e lutem pelos direitos básicos dos demais. Não adianta esperar iniciativas de autoridades competentes.

Temos de tomar as rédeas e fazer o que está ao nosso alcance.

Se você faz parte de alguma iniciativa para melhor informar a população, ou conhece alguém, algum grupo ou associação que o faz.. Divulgue, para que pessoas e grupos assim saibam que não estão sozinhos. Rádios comunitárias, distribuição de panfletos, grupos de conversa... enfim.Precisamos fortalecer as comunidades, grupos, associações de moradores, redes de informação, para que de fato haja uma união por um futuro melhor. Temos de livrar nosso povo de uma vez por todas da ideia de que é preciso haver um "Salvador da Pátria".




Fontes:

1- TechTudo - 67% dos brasileiros têm acesso à internet

2 - MSN - Internet chega a 4 em cada 5 lares, mas Brasil ainda tem 45,9 milhões de excluídos digitais





16 de mar. de 2020

Hole in My Soul

(Às vezes gosto de escrever ouvindo música, criando textos embalada pela melodia, pela emoção na voz dos vocalistas, pelas letras, enfim!) 






Há um buraco em minha alma e ele não quer fechar.
Há um buraco em minha alma, e não sei se quero que ele feche.
Há um vazio doloroso, estranho. Uma sensação quase rotineira.

Andando em uma terra sem dono.

Tenho a impressão de que este vazio é necessário. Se eu conseguir preencher este buraco, este vazio, esta ausência, algo que faz parte de ser eu vai sumir, e tenho medo de quem posso me tornar se este buraco sumir. 

Tem um buraco na minha alma que esta me matando há tempos/É um lugar onde um jardim nunca cresce.

Porque estou acostumada com ele, confortavelmente estranha com ele.
O mesmo vazio que me mata lentamente me faz sentir viva.

Me diga como se sente sendo
Aquela que gira a faca dentro de mim.

O vazio que me paralisa também serve para fazer com que eu continue caminhando, querendo e ao mesmo tempo temendo preenchê-lo. 

Minhas lágrimas viraram poeira/E estou totalmente vazio
(Às vezes me sinto quebrado e não posso ser consertado)

É estranho e não tem explicação, porque talvez não seja para haver alguma.





( A legenda no vídeo pode apresentar alguns erros.. Não fui eu quem traduzi, ok?)

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 Bom dia, boa tarde, boa noite! Tudo bem?  Chegando mais uma edição da nossa blogagem coletiva semanal!  Quem tem cantinho (ou até mesmo qua...

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