Tudo bem, pessoas? A semana passou, fiquei de vir aqui desejar Feliz Natal mas enfim.. Festas. Fiquei com a família e me desconectei daqui, só dando as caras no Twitter mesmo (e no Whatsapp da família para não ser a única pessoa a não compartilhar nenhum gifzinho de Natal). Nos próximos dias irei agendar algumas postagens, principalmente falando sobre o #DesafioMS2019, que não cumpri todo - o que não significa que não tenha lido muito! Acho que foi o ano em que mais comprei livros, tanto físicos quanto e-books.
Ah, falando em livros, finalmente consegui recuperar o livro Nonoberto Nonemorto e poderei atualizar a resenha que fiz aqui no blog nos próximos dias.
Espero que todos tenham tido um bom Natal e estejam bem. Vamos à última imagem deste ano?
#postacessivel: a imagem mostra parte da mão de uma pessoa, a julgar pelas unhas compridas e com esmalte cor-de-rosa, aparentemente é uma mulher branca. Ela está segurando duas varetas faíscas acesas. O fundo da imagem está embaçado, mas pela pouca claridade deduz-se que é noite e a pessoa está em um espaço aberto.
Enquanto
observo as faíscas produzidas nas varetas em minha mão, faço votos de que a
vida de todos possa ser um pouco mais iluminada.
"Uma história sobre rebelião, tabu, violência e erotismo escrita com a clareza atordoante das melhores e mais aterradoras fábulas" ( Texto na contracapa do livro)
Capa do livro que tenho em casa
Livro: A Vegetariana Autora: Han Kang Tradução: Jae Hyung Woo (traduzida diretamente do coreano) Editora: Todavia 1ª Edição, 2018 176 páginas
Yeonghye, uma mulher aparentemente comum , choca a família e a desestabiliza ao decidir, depois de um pesadelo, não mais comer, cozinhar ou servir carne. Uma decisão aparentemente simples porém considerada rebelde, que desencadeia uma série de eventos que fazem com que a dinâmica familiar nunca mais seja a mesma.
O livro é dividido em três partes, narrado por três vozes: o marido, única narração em primeira pessoa no livro todo, conta sobre a vida dos dois até um fatídico incidente em um almoço de família (No restante do livro não mais aparece, é apenas mencionado pelos outros personagens após ter se divorciado dela); o cunhado, artista visual que sente-se atraído por Yeonghye e sua rebeldia e a irmã mais velha, cujo ponto de vista vemos na terceira e última parte do livro. Esta última parte é a mais comovente, pois além de mostrar o declínio mental de Yeonghye em um caminho sem volta, mostra que a irmã mais velha é a única que a enxerga realmente como uma pessoa, alguém que sofre, não como alguém conveniente (como o marido enfatiza, que gostava de Yeonghye por ela não se destacar - ou seja, não fazê-lo sentir-se inferior ou medíocre) ou como objeto de obsessão artística e física (ponto de vista do cunhado).
A irmã mais velha se importa suficiente para mudar sua rotina e tentar o melhor para Yeonghye, enquanto se questiona sobre sua própria vida e relembra fatos do passado que impactaram as duas até o presente, relembrando outras atitudes "estranhas" que ela teve no passado e buscando explicações para a degradação mental e física que afeta a irmã mais nova.
O fato de tornar-se vegetariana, na realidade, é a ponta do iceberg: conforme a história vai se desenrolando pelos diferentes olhares, entendemos aos poucos a razão para Yeonghye ir se afastando gradualmente do mundo e da rotina que conhecia, fazendo assim com que outros familiares também questionem as escolhas de vida que os trouxeram até onde estão. A Vegetariana é um romance perturbador, onde sexualidade e loucura se
misturam à medida que vamos conhecendo melhor Yeonghye e as atitudes que
ela tem desde que decide não comer mais carne.
Alguns trechos destacados, normalmente sonhos ou impressões confusas,
são narrados pela própria Yeonghye e nos tragam em uma espiral de
angústia ao tentar compreender sua mente.
"Por que será? Tudo parece desconhecido para mim, como se olhasse para as coisas de longe. Como se estivesse presa atrás de uma porta sem maçaneta. Não é bem isso... Será que sempre estive ali e só agora me dou conta? Tudo está escuro e esmagado".(pg 32)
Com o tempo, Yeonghye vai se desfazendo de outras convenções sociais, abandonando comportamentos considerados padrões: ficando cada vez mais tempo nua em casa sem se importar em ser vista, ausentando-se cada vez mais da sociedade e de suas regras, vivendo em um mundo próprio e afastando-se da família com quem só troca algumas palavras quando necessário. A narração da história nos leva neste turbilhão e nos perturba, fazendo com que nós , leitores também nos questionemos sobre a fronteira entre loucura e sensatez,sobre a violência física e psicológica e marcas da infância. Conforme a história avança, essa desconexão de Yeonghye com a realidade e o desejo cada vez maior de conectar-se com os vegetais nos angustia e nos leva velozmente ao final do livro, cuja história termina em aberto, focalizando nas duas e na angústia e melancolia da crua realidade de um mundo que embota nossos sentidos.
Recomendo muitíssimo o livro, principalmente para quem está preparado para questionar certos padrões sociais e como a sociedade que construímos nos envenena ao mesmo tempo que nos sustenta. A narrativa flui rápida sem deixar de ser impactante.
O livro foi lançado há uma década na Coreia do Sul, mas demorou um pouco a chegar aqui no Brasil, a princípio traduzido do inglês. A edição que tenho foi traduzida diretamente do original, e a comprei na Estante Virtual
Para saber mais:
- Vídeo do canal Ler Antes de Morrer: uma resenha que explicita muito bem a essência do livro e contextualiza a história (contém alguns spoilers)
Imagem: capa do livro, com o título no alto. A capa é preta e no centro há uma ilustração em forma de desenho, representando pessoas sorridentes. Há um homem no centro, ladeado por dois seres que aparentam ser anjos pois têm asas nas costas. Há outro anjo voando por cima deste trio. Também há um homem bebendo algo de uma xícara, um casal dançando, dois homens bebendo: um segurando uma garrafa e outro um copo. O homem que segura um copo também segura uma mala. Há dois animais também, que no momento não consigo identificar. Todos estes seres estão em um piso amarelo. Na beira do chão amarelo, há seis pessoas observando, também sorridentes. Duas seguram uma mala cada uma, uma segura uma xícara e duas apenas observam. Abaixo da ilustração, o nome do autor: Luís Alberto F de Abreu
#postacessivel: a fotografia, em preto e branco, mostra um homem, cujo rosto não é visível por estar com a cabeça baixa. Ele veste uma boina, paletó e calças escuras, camisa branca. Está sentado em uma cadeira e segura uma bengala com a mão direita. Ao fundo, se vê o que parece ser o cenário da peça de teatro referida no texto abaixo. No pano de fundo aparece a frase: "As coisas, os fatos, o tempo em sua memória estão em pedaços. Mesmo assim ele tem muito mais coisas que nós.." (Rodrigo Cruz)
"A
obra estrutura-se a partir das lembranças confusas de Nono Berto, um
velho filho de imigrantes italianos ( da região do Tirol, entre Áustria e Itália - grifo meu) que, em razão de sua idade avançada,
mistura a imaginação e realidade, locais e tempos históricos,
acontecimentos reais e inventados, e o desejo que alguns acontecimentos
fossem de fato reais. Mais que um retrato histórico da imigração de
Tiroleses na região de Piracicaba, o espetáculo, segundo o desejo e a
pena de seu autor, tenta ser um retrato do movimento da alma humana." (sinopse da peça).
Imagem: fotografia em preto e branco de um senhor, utilizando roupas compridas e chapéu, sentado e observando um tecido em suas mãos.
Nonoberto Nonemorto é uma peça de teatro produzida e encenada pelo grupo teatral Andaime, desde 1998.
Posteriormente, o roteiro foi publicado em forma de livro com o texto e roteiro de Luís Alberto de Abreu.
A história gira em torno de Nonoberto ( Nono Berto), que ao fim de sua vida relembra toda a saga, sofrimentos, histórias dos imigrantes italianos, fatos de sua vida. Há um paradoxo ali, pois Nonoberto ao mesmo tempo que tem sua memória fragmentada e por vezes fica com o olhar vazio, entristecendo-nos junto com ele ao partilhar seu declínio mental, também tem memórias muito vivas. A peça toda mostra essa mistura de esquecimento, recordações, recortes de diferentes épocas,realidade e fantasia coexistindo durante toda a narrativa. A melancolia de Nonoberto perpassa toda a peça, mesmo havendo momentos de comédia. Como diz no prólogo da peça, "Nonoberto é um homem de rompantes. As imagens passam sem controle e se fixam em sua mente, gerando lembranças, riso, emoção também sem controle".
A história transcorre ora contada pelo próprio Nono Berto, ora por outros personagens, mostrando dificuldades, cotidiano, recordações impressões de mundo, alternando entre a nossa língua portuguesa e alguns trechos em dialeto "Talian". Há momentos em que a quarta parede é quebrada, tanto pelo Nonoberto quanto por outros personagens e narradores.
É uma narrativa emocionante e impactante, confesso que chorei lendo o livro ( conheço boa parte da história da imigração,eu mesma sou descendente de italianos) e gostaria de ter visto a peça teatral.
...................................................................................................... Esta postagem faz
parte do desafio literário 2019 proposto
pela Sybylla, do blog Momentum Saga
Não é necessário escolher livros nesta ordem e não precisam ser necessariamente livros: podem ser também HQ's (quadrinhos), mangás, novelas, até mesmo audiolivros.
Já fiz a minha lista e a primeira postagem deste desafio, sobre o livro Desmortos . Quer saber mais? Siga o link, clicando no banner do Momentum Saga aí embaixo!