Sempre com um olhar suplicante e meigo, carinhoso. Totalmente negro, não fosse por um chumacinho de pelos brancos, parecendo até uma gravatinha. Acordava-me pela manhã, não saía de perto. O nome, Jhonny, foi dado no mesmo dia em que encontramos.
Jhonny tinha gostos estranhos: beterraba cozida, couve-flor cozida, cebola usada para temperar carnes, e o mais doido: pepinos e chuchus, crus! Quando meus pais jogavam pedaços de pepinos para as galinhas comerem, lá estava o gatinho entre elas, deliciando-se com a improvável iguaria.
Depois de um tempo, ele ganhou uma companheira de brincadeiras e artes mil, a gata Tekinha. Sim, e o improvável novamente aconteceu: os dois devoravam pepinos! Tínhamos de ser mais ligeiros e colher os pepinos pela manhã, antes que os gatos os vissem, senão... muitos pepinos apareceram mordidos, ainda no pé. Sem falar nos chuchus que armazenávamos para dar às vacas, muitos deles apareciam mordidos também.
Jhonny era um gato sui generis: calmo, carinhoso e apegado ao território. Bem apegado! Na mudança para nossa casa nova, muitos quilômetros longe, mesmo estando dentro de um saco para "não ver o caminho", e na carroceria do caminhão que nos trouxe, ele nos mostrou esse apego. No mesmo dia em que chegamos à casa nova, ele sumiu.Uma semana depois, meu tio e antigo vizinho nos comunica: Jhonny estava na casa dele! Voltou à casa antiga, provavelmente não gostou dos novos donos e dirigiu-se ao terreno vizinho.
Meu tio gentilmente o trouxe de volta à nossa nova casa, mas não adiantou: uma semana depois, Jhonny novamente sumiu. Desta vez, não voltou: meu pai disse a meu tio que poderia fazer o que quisesse com o gato ( buááá), e como meu tio não queria ficar com ele, deixou-o em outro bairro, longe tanto da casa dele quanto da nossa.
Lembro bem é do Jhonny. Pretinho, mancha branca, olhar carente, comedor de pepino! E que não gostou nada de sair da área rural em que morava, embora nossa casa nova fosse também em uma área parecida.
Jhonny faz parte de um capítulo de minha vida que encerrou-se naquela mudança de casa. Talvez ele não tivesse de fazer parte do capítulo seguinte!
Pela primeira vez, escrevo uma crônica totalmente pessoal. Existiu sim, um gato chamado Jhonny com hábitos alimentares um tanto quanto peculiares.E eu fui dona dele por quase dois anos. Ou será que ele escolheu nossa casa, nossa família?
Não tenho fotos dele, na época não tínhamos câmera fotográfica lá em casa. Mas a lembrança é bem nítida.