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17 de mai. de 2017

Resenha: Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus

Desafio Literário 2017 - Um livro de Não-Ficção

Quarto de Despejo: Diário de Uma Favelada

Autora: Carolina Maria de Jesus
Editora: Ática, 176 páginas
Ano: 1960 (Primeira Edição)


“Escrevo a miséria e a vida infausta dos favelados. Eu era revoltada, não acreditava em ninguém. Odiava os políticos e os patrões, porque o meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre. Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ninguém está habituado a esse tipo de literatura. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade. ”
Carolina Maria de Jesus 



Li este livro na adolescência e nunca mais esqueci. Escrito na década de 1950, o livro é na realidade um diário, que relata o  cotidiano de uma mulher pobre, negra, mãe  e  moradora da antiga favela do Canindé. A autora, em sua linguagem simples, dá um verdadeiro tapa na cara, um choque de realidade . Mostra-nos a cor da fome (amarela), os medos e angústias do ponto de vista dela, dentro daquela realidade de miséria, violência e fome,enquanto luta para criar e dar uma boa educação a seus três filhos, trabalhando a ponto de ficar doente.

Nascida em Minas Gerais no ano de 1914,apenas apenas 26 anos depois da abolição da escravatura,Carolina Maria de Jesus vivenciou, além da vida pobre no Canindé, o preconceito contra as pessoas de pele negra, além do desdém com que pessoas da vizinhança a tratavam pelo fato de ela expressar-se de forma mais articulada e tentar evitar maledicências e brigas. 

   "Quarto de Despejo" é a voz da favela, da vida dura, da realidade pesada, dos dias difíceis, da falta de recursos, dos dias difíceis. Também é a voz que mostra que apesar de tantos desafios diários, ainda há espaço para momentos de felicidade e a esperança de dias melhores. 
É a fala da mulher, negra, pobre, sofrendo preconceitos e tentando se posicionar contra a estrutura viciada que a sociedade estava criando, sem submeter-se ao papel que dela se esperava.  É a voz de uma pessoa real, passando por situações que apesar de terem sido registradas naquela época, ainda encontram eco nos dias atuais. 

   O livro é o relato cru do dia-a-dia de pessoas que assim como a autora estavam "despejados" da vida digna que deveriam ter. Carolina, mesmo escrevendo de forma autobiográfica, não tenta se mostrar uma pessoa perfeita, embora com certo orgulho admita sentir-se mais inteligente e com uma melhor visão que as pessoas que com ela convivem. Tinha o sonho de uma vida melhor e esforçava-se para alcançá-lo.

    Além de Quarto de Despejo, Carolina também publicou outras obras, como Casa de Alvenaria, Pedaços de Fome e Provérbios, publicados ainda em vida, deixando farto material que foi publicado postumamente, como O Diário de Bitita. Há quem diga que ainda existe material inédito entre os muitos cadernos nos quais que Carolina escreveu até a data de sua morte. 


   Infelizmente, o sonho de uma vida digna foi fugaz: depois do estrondoso sucesso de seu livro, e mesmo tendo publicado outros, o dinheiro obtido não foi o suficiente para manter um novo padrão de vida.. e Carolina faleceu em 1977, novamente moradora de uma favela.Porém sua obra, expoente da literatura marginal, nos deixa até hoje muito em que pensar e podemos dizer que é um legado precioso. 


Para saber mais:

Página sobre a escritora na Wikipédia

Texto sobre a escritora no site Mundo Negro

Onde adquirir:

Estante Virtual (usado, porém em bom estado)

Mercado Livre (vários vendedores)

Saraiva










Um comentário:

  1. Ola Mari.
    Eu também li este livro na década de 70.Minha irmã ganhou de uma senhora e eu o devorei. Li mais sobre ela. Emocionante e a crueza da realidade e que me parece mudou quase nada.

    Uma bela e precisa resenha.
    Valeu.
    Bjs e boa semana amiga.

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