Título: A Vida de Lino Vicenzi - Relatos pessoais de um veterano da FEB
Autor: Lino Vicenzi
Transcrito e organizado por José Vicenzi Neto.
Editora:Odorizzi Gráfica e Editora
Edição: 1ª (setembro de 2013)
161 páginas
A Vida de Lino Vicenzi conta a história deste veterano da FEB - Força Expedicionária Brasileira. Ele participou ao lado dos aliados na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, e este acontecimento teve grande impacto sobre sua vida, sendo que contou histórias desta guerra até o fim de seus dias.
Porém, apesar de ser o foco principal, neste livro Lino Vicenzi não conta apenas sobre o que presenciou na guerra, mas também detalhes de sua vida, desde a infância na década de 1920 - ele nasceu em 1922 - com seus dez irmãos. Relembra com detalhes as brincadeiras de infância, comentando sobre os costumes daquela época, os brinquedos e como foi o período na escola e a vivência religiosa, muito forte.
" Para a primeira comunhão papai foi emprestar um sapato para eu calçar. Como era muito grande, mamãe colocou panos velhos no fundo do sapato. Fui sozinho caminhando para a igreja. Nem sabia caminhar com aquilo. Foi a primeira vez que usava. E ainda, usei sapato sem meia, chegando lá com calos, bolhas no calcanhar". (pg 18)
O ponto alto do livro é a ida para a Itália, para a Segunda Guerra Mundial. Lino descreve, com boa memória, como era o treinamento, as privações e o trabalho que ele e outros jovens realizavam em Blumenau (cidade a pouco menos de uma hora de Rio dos Cedros), a convocação para ir a São Paulo, depois Rio de Janeiro ( onde ficaram como "soldados de depósito", para substituir soldados mortos ou feridos em combate), até a ordem para embarcar em uma viagem sem certeza de voltar.
"Assim que o navio desatracou do porto, apenas se escutava:Adeus, pátria! Adeus, família! Nunca mais voltaremos!" (pg 38)
Lino continua narrando em forma linear e lúcida as experiências que viveu em solo italiano, a volta para casa e para a vida que tinha antes, com seus pais.. Casamento, os filhos que teve,o trabalho na roça, o bar que abriu...
Também conta um pouco da história dos imigrantes que chegaram ao que hoje é a comunidade de Caravágio, (Caravaggio), onde nasceu, cresceu e se estabeleceu, morando lá até o fim de seus dias. Fala um pouco sobre seus pais e como estão seus filhos hoje em dia, em uma linguagem simples, como se estivesse conversando com o leitor, na cozinha enquanto toma uma xícara de café.
Ao final do livro, há algumas fotografias de família, certificados, diplomas, desfiles cívicos, recortes de jornal. Uma vida em fotos. Uma vida trivial e ao mesmo tempo extraordinária.
Dedicatória no livro entregue pelo Sr. Lino a meu esposo. |
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Este livro foi um do que mais me comoveu ao resenhar. Enquanto preparava as imagens e organizava minhas ideias para escrevê-la, me vi chorando em frente ao computador.
Por que? Por que eu conheci pessoalmente o Sr. Lino, desde minha tenra infância, por ele ser meu conterrâneo. Assim como o Sr. Lino, nasci e cresci na comunidade de Nossa Senhora do Caravágio, em Rio dos Cedros. Lembro-me bem do bar com a cancha de bocha, lembro da casa - que ainda está lá, um dos filhos mora ao lado; fui professora de uma de suas netas e recordo que praticamente desde que me conheço por gente, o vi na igreja local, celebrando, cantando, lendo a história de como iniciou a devoção à Nossa Senhora do Caravágio, discursando ao final da missa festiva em honra à padroeira da comunidade.
Recordo-me muito bem dele trabalhando nas festas da comunidade, realizando celebrações na pequena capela de Caravágio como ministro da Eucaristia quando não era possível que um padre viesse fazê-lo; cantando com o grupo de canto da comunidade nas missas festivas. Como morei naquela comunidade até os meus quatorze anos - e depois disso não deixei de participar de várias missas e celebrações festivas que lá ocorriam, posso dizer que este senhor fez parte da minha vida.
Era uma pessoa muito ativa na comunidade e no município, praticamente não havia quem não o conhecesse. Na festa anual de nosso município (Festa Trentina), não deixava de desfilar, juntamente com os demais expedicionários ainda vivos, em um jipe, sendo sempre muito homenageado.
Depois de voltar da Itália ao final da Segunda Guerra, o Sr. Lino deu muitas entrevistas para emissoras de televisão, rádios e jornais. No Youtube é possível ver vários trechos de entrevistas.
Aqui na nossa região, chamada de Médio Vale do Itajaí, ele foi convidado várias vezes a palestrar em escolas, sendo que apreciava muito estes convites, comparecendo pontualmente. Tive a oportunidade de ver uma destas palestras quando adolescente, além de ter lido artigos de jornal o entrevistando. Inclusive acompanhei meu esposo quando a Secretaria de Educação aqui de Rio dos Cedros realizou entrevistas com pessoas de idade. Naquele dia em especial, fomos fotografá-lo em sua casa, o que o deixou muito contente, mostrando a sala onde guardava
( acredito que ainda estejam lá) recordações dos tempos em que serviu o exército.
O Sr. Lino faleceu em 18 de fevereiro de 2014, ou seja, há quatro anos atrás. Agora, editando este post, vi que foi poucos dias depois de recebermos o livro.Ele era o último expedicionário vivo de Rio dos Cedros, e o que mais se importava em contar esta parte de nossa história com o intuito de que não se repetisse.
A cerimônia fúnebre causou muita comoção, e a capela e cemitérios que já são pequenos ficaram menores ainda para abrigar tantos amigos, parentes, conhecidos, expedicionários de outros municípios, autoridades. Foi uma ocasião comovente e uma linda última homenagem a esta pessoa que tanto significou para nossa Rio dos Cedros.
Matéria do Circolo Trentino - última homenagem a Lino Vicenzi
Onde comprar: Não consegui encontrar o livro à venda, por isso imagino que tenha sido uma tiragem limitada. Talvez na gráfica onde foi impresso seja possível encontrar. Assim que tiver mais informações, atualizo este post.
Gratidão a todos que leram até aqui... e até a próxima!
Mesmo sem conhecer, como tu, o Sr. Lino, deu pra imaginar tua emoção... Resenhaste bem e os trechos por si só já mostram o quanto deve ter nesse livro. Tanto ele deve ter passado... Adorei te ler,Mari! Belo trabalho! beijos, chica
ResponderExcluirGrata, Chica! É a primeira vez que resenho uma obra de alguém com o qual convivi, foi bem diferente!
ExcluirAbraços!
Que bela homenagem a esse teu conterrâneo extraordinário! Espero que a mensagem dele prevaleça e esse mundo nunca mais conheça o horror da guerra.
ResponderExcluirSeria bom, né? Pena que estamos vendo ainda isso em pleno século XXI.. Mas um dia a paz prevalecerá.
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