31 de dezembro.
Dez da manhã.
Carol
levantou-se, a cabeça doía. Ao lado, Léo ainda dormia profundamente; era inútil
tentar acordá-lo. Com um gosto amargo na boca, ela foi à cozinha. Como sempre,
um café bastaria para acordá-la de vez.
Há
anos, o período de férias entre Natal e Ano Novo era desse jeito. Poucos e
breves dias antes de voltar ao trabalho, dos quais grande parte se dividia
entre tentar deixar a casa organizada - a famosa e inconclusa
"faxina de Natal" - e dormir. Dormir tarde e acordar muito tarde,
tomar café da manhã no horário do almoço, almoçar às quatro da tarde, jantar o
que e quando desse na telha. Carol precisava terminar de separar o lixo,
amarrar bem os sacos. O pessoal da coleta seletiva passaria somente na semana seguinte.
A única coisa que não deixava Carol esquecer-se da data era o fato de ter de
voltar ao trabalho já no dia 2 de janeiro. Maldito mercado de trabalho que lhe
dava uma mirrada semana de férias em troca de exaustivas oito horas de trabalho
diárias, durante um ano inteiro.
A rotina ininterrupta de anos pintou a vida de Carol de cinza. Ela nem sabia
mais se estava cansada, feliz, triste ou decepcionada. Se tinha mesmo a vontade
de viajar e conhecer lugares diferentes que expressava, sem concretizar, todo
final de ano, ou se dizia isto apenas por dizer e na verdade preferia mesmo
ficar em casa como sempre. Ela se sentia como se estivesse se perdendo com o
tempo. Não era mais ela.
Léo
continuava dormindo.
31 de dezembro
Meio-dia.
Léo levantou-se, as costas doíam.Carol já havia se levantado. Como ele gostaria
que ela relaxasse um pouco, para acordar ao lado dela. Provavelmente ela já
estava preparando o almoço, ou limpando o lado de fora da casa, ou talvez até
escrevendo sem parar no Facebook.
Há anos, os dias entre dezembro e janeiro eram assim. Dormir tarde, muito tarde
mesmo, prometer levantar mais cedo para deixar algumas coisas organizadas e
constatar que novamente só se conseguiu acordar ao meio dia, tomar uma xícara
de café e almoçar lá pelas quatro da tarde, depois de ficar assistindo vídeos
no youtube ou sitcoms na tv aberta.
A única coisa que não deixava Léo esquecer-se de que dia da semana estava, era
o movimento intenso nas ruas e o fato de ter de voltar a trabalhar no dia
cinco de janeiro. Pelo menos neste ano voltaria a trabalhar em uma
segunda-feira, mas ainda assim descontente. As férias eram breves demais!
Trabalhara até o dia vinte de dezembro, quase não conseguira fazer as compras
de Natal e agora que estava começando a organizar algumas coisas que deixara
para as férias, já chegava a passos largos a hora de voltar à rotina. E pensava
consigo mesmo: que bom se eu fosse meu próprio patrão! Como gostaria de fazer
uma viagem de avião nas férias.. mas isso fica só nos sonhos por
enquanto.
A
rotina ininterrupta de anos deixou Léo sem saber se continuava fazendo o que
fazia por prazer, por costume ou por obrigação. Sentia-se como se estivesse no
piloto automático.
Carol estava lendo blogs
de moda na internet.
31 de dezembro.
Seis da tarde.
Carol
e Léo já almoçaram, cada um voltou ao que fazia. Léo consultava páginas sobre
aeromodelismo na internet, Carol lia um livro sobre empreendedorismo. Coisas
que eles sabiam que não se concretizaria. Carol foi trocar de roupa, iria à
missa. Léo resolveu ir junto.
Sete
da noite.
Enquanto o sacerdote erguia as ofertas no altar, Carol pensava se faria um
jantar ou não. Provavelmente ninguém os visitaria esta noite. Mas não custava
fazer algo diferente.
Nove da noite.
Léo, como sempre, fez uma lista de resoluções, que foi rápida: bastou riscar o
que cumpriu no ano anterior e deixar o que faltava ser cumprido. Nada de
extraordinário para quem levava a vida no piloto automático.
Carol tinha o mesmo
costume, porém já havia jogado fora três rascunhos, pois gostava de fazer
listas separadas por setores de sua vida. Notou que a maioria das resoluções
eram iguais às do ano anterior, que por sua vez eram iguais das do outro ano.
Nada estranho para quem tinha uma vida cinza.
31 de dezembro
Onze da noite.
Por superstição, costume, tradição ou sabe-se lá por que, Carol e Léo foram ao
quarto ao mesmo tempo. Despiram-se, trocando suas roupas por outras, brancas.Um
nem notou o outro despindo-se,estavam demasiadamente acostumados a fazer
isto. Foram até a varanda e ficaram conversando sobre assuntos triviais, até o
início dos fogos anunciando o Novo ano.
01 de Janeiro
Meia-noite.
- Feliz ano novo,
amor.
- Feliz ano novo para
você também.
Assistiram aos fogos em
silêncio, até findarem.
Foram ao quarto,
despiram-se
As luzes se
apagaram.
Antes do beijo de
boa-noite, Léo suspirou:
- Vamos fazer algo
diferente este ano?
- Seria bom, concordou
Carol.
- Te amo.
- Eu também.
01 de janeiro.
Dez da manhã.
Carol
levantou-se. A cabeça doía.Ao lado, Léo ainda dormia profundamente; era inútil
tentar acordá-lo.
Meio-dia.
Léo levantou-se, as
costas doíam.Carol já havia se levantado. Como ele gostaria que ela relaxasse
um pouco, para acordar ao lado dela.
O Ano Novo começou,
aguardando pessoas novas.
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Oi Mari!
ResponderExcluirFeliz Ano Novo, que só será novo se mudarmos e nos transformarmos! Mudarmos os rumos!
Adorei sua crônica!
Beijos
Mari, maravilhoso pela simplicidade com que retrata do dia a dia de nós que somos envolvidos por esta roda viva. Me vi dentro de seu texto.
ResponderExcluirBjs
Renato
Que texto simples e especial... No começo fiquei meio que boiando, eu que sou meio lesado mesmo, mas depois eu consegui entender.... Acho até parecido com minha história... Bjs
ResponderExcluirOlá, querida Marina
ResponderExcluirQue a rotina não nos sufoque!!!
Bjm festivo de 2015