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28 de fev. de 2021

Pimpom é um boneco de vida curta

      Às vezes me pego pensando em como a infância é uma etapa abençoada. A gente ainda não entende direito como as coisas funcionam, por isso tudo é fascinante enquanto somos crianças. E as músicas infantis não precisam fazer sentido. Basta a melodia e a delícia de pronunciar as frases em cadência sem ficar se preocupando com o significado ou com a coerência o tempo todo.

    Por exemplo, a canção: "Pimpom é um boneco/feito de papelão/que lava a carinha/com água e sabão". Para mim, adulta,a próxima frase lógica deveria ser  "Pimpom derreteu", afinal sabemos que um boneco de papelão resolver lavar sua carinha não vai terminar muito bem. Mas para as crianças funciona e é uma musiquinha daquelas que gruda na cabeça e você acaba cantando sem perceber no caminho para o  trabalho. Ainda bem que vou de motocicleta e se durante o percurso até a escola eu soltar um "Pimpom toma sua sopa e não suja o babador", ninguém vai me ouvir. 

   "Ciranda, cirandinha", outra canção tradicional, fala de coração partido e em seguida convida pessoas a entrar em uma roda, dizer um verso bonito e depois simplesmente ir embora. Ou seja, chorar, ouvir alguns versos e se livrar da pessoa aleatória que teve de lembrar de algum pequeno poema em cima da hora para poder entrar na roda. Que coisa, pessoa do coração partido. 

" O cravo brigou com a rosa" também fala de um barraco que termina com o cravo machucado e a rosa despetalada. E ninguém é preso! O cravo fica doente depois disso, desmaia durante uma visita da rosa e ela ainda chora! Qual a lição que se tira disso? Ainda não sei. Esse texto nem é para se levar a sério, caramba. 

E o que dizer de "Tengo,tengo", em que alguém canta alegremente que vai colocar uma pessoa na lata do lixo sem motivo aparente? Sério, por que causa, motivo, razão ou circunstância, depois de cantar "Tengo, tengo, tengo, Morena, é de carrapicho" alguém iria simplesmente declarar que vai jogar uma pessoa aleatória na lata do lixo assim, do nada? Ou há alguma história, uma "prequel" que não foi contada ainda e que fala do ranço de uma pessoa por outra? 

Ah, claro, em muitas dessas canções o alvo é um "João" ou uma "Maria". Agora, imaginem se a Maria que vai ser jogada na lata do lixo é a mesma Maria que não soube remar, foi parar no fundo do mar e quer se casar - ou melhor, queria, pois a pessoa aleatória cujo nome não é especificado canta na maior alegria que "tirava a Maria" do fundo do mar se fosse um peixinho e soubesse nadar, ou seja R.I.P Maria.

 Pobre Maria. A única compensação para ela foi não ficar sozinha ao entrar na roda pois tinha o Joãozinho para ser seu par. E se bobear, foi o próprio Joãozinho que depois jogou a pobre coitada na lata do lixo. 

Nem vou gastar muitas linhas discutindo sobre barbárie e canibalismo que aparecem em certas músicas. Sim, estou falando contigo, Senhor Capitão do Bão-balalão cujo irmão teve uma terrível sina em terras de mouros.

Pelo menos a canção "Balaio" é bem útil, ensina que sem balaio a costura fica no chão. E que precisa especificar o tamanho do objeto para poder trabalhar direito, claro. Ao contrário da galinha do vizinho que coloca sozinha dez ovos, o que vai gerar uma desilusão futura nas aulas de Ciências. 

E não sacaneia a vida de nenhum João ou Maria que entram em rodas sem saber como se dança.

 

Um comentário:

  1. Mari ,que lindo post! Adorei ver o olhar adulkto, reflexivo e consciente sobre as músicas da infância. Mas, vamos combinar ,era muito melhor simplesmente cantar sem pensar até nisso, né?rs... Adorei! E o Pimpão que derrete ficou legal,rs..Só tu! beijos, Feliz Março,chica

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